Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

A gadanha dos sonhos traídos

http://i.imgur.com/exCGk13.png

Tsipras e o Syrisa deram, por estes dias, a machadada final do seu grotesco plano para a Grécia. O que fizeram é vexante a todos os níveis para qualquer pessoa decente independentemente do quadrante político a que pertença. É mais do que vexante: é nojento. Não obstante, no processo, terem posto a nu o que realmente é isto da União Europeia e de terem reduzido palavras como solidariedade aos chavões que realmente são no palco europeu, independentemente disso, o que fizeram é nojento. Para o que fizeram teria sido preferível os fantoches do costume, os socialistas ou os sociais democratas. Esses, pelo menos, são mais autênticos naquilo a que se propõem. Usam de oratória oca, mentem, são demagógicos, claro que sim. É a sua natureza. Mas por ser uma natureza tão repetida, tão pegajosa nas traves políticas europeias, que qualquer um, qualquer cego, consegue ver por entre tudo isso. A sua natureza não engana verdadeiramente ninguém e quem diz o contrário mente. No fim de contas, os socialistas ou os sociais democratas teriam feito o mesmo que fez este Tsipras e este Syriza sem tanto foguetório.

 

Tsipras assinou o acordo e agora demite-se. Aqui reside a vergonha, a falta de caráter, da coisa. Tsipras e o Syriza traíram descaradamente o povo grego nas promessas que fizeram e na prática que seguiram deixando-o, agora, atado de mãos e pés a mais um resgate e a mais austeridade.

 

Não é invulgar, contudo, este género de acontecimento. As classes dominantes do capitalismo têm esta capacidade de minar a luta das classes sociais desfavorecidas desta ou de outra forma qualquer. O poder do capital nunca deve ser desconsiderado. Os seus tentáculos chegam a todo o lado. A sedução pelo poder ou pelo pequeno poder tem esta capacidade de criar Tsipras e Syrizas, como que agentes duplos que se apresentam como estando ao serviço do povo e dos trabalhadores mas que, em verdade, são assalariados do regime colocados em campo para dividir, confundir e para que os seus mestres continuem a reinar.

 

Seria importante, transportando diretamente por decalque para o caso português, ouvir a opinião do Bloco de Esquerda sobre estes acontecimentos, já que o Bloco de Esquerda sempre se colou ao Syriza e ainda se cola a todos os outros movimentos europeus similares como o Podemos espanhol. Seria interessante ouvir o que têm a dizer e se é expectável esperar algo de semelhante na sua ação política se acaso um dia tomem em mãos a vara do poder. É que o Bloco de Esquerda não apenas tem cavalgado a onda de populismo deste género de movimentos, que na verdade ninguém percebe bem o que são até que seja demasiado tarde, como se cola também a eles nas suas opções políticas. Por exemplo: o Bloco de Esquerda apresenta-se contra a austeridade alemã e é bastante verbal neste particular, todos os de esquerda concordamos, mas ao mesmo tempo revela-se a favor da União Europeia e do Euro. Como é, afinal? O Bloco de Esquerda propõe o mesmo que o Syriza ou tem ideias diferentes?

 

Pela minha parte, acho que já chega de brincar à política e às esquerdas. Se o povo português quiser mudar para uma sociedade diferente, mais justa, e sublinho aqui a palavra justiça, uma economia equilibrada e sustentável, desenvolvida com vista ao crescimento do país e à satisfação das necessidades das pessoas, se o povo português quiser uma democracia real e não fictícia, então sabe bem onde colocar o seu voto. Aliás, sempre soube. Talvez por isso fuja disso mesmo e prefira esta selva em que vivemos. Ao invés, se quiser prosseguir nestas brincadeiras e experimentalismos que constituem apenas divertimentos para a classe dominante, pois não a afetam nem procuram beliscar em absolutamente nada, então que continuem. Será sempre divertido.

 

O futuro do Syriza e de Tsipras, contudo, será algo de bastante diferente. Para eles não auguro mais brincadeiras, grandes planos ou palcos. O seu destino é a extinção e ser-lhes-á conferida a golpes furiosos de gadanha, da gadanha dos sonhos traídos, pelas mãos e pelos braços dos gregos que neles votaram. Que eles desaparecerão, mais cedo ou mais tarde, é garantido; o povo grego tratará de o fazer. Que eles surgirão com um outro nome, com um novo logótipo e com novas caras, anos mais tarde, também.

publicado às 12:41

Mais sobre mim

imagem de perfil

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub