Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

A era da pseudociência

É muito comum referirmo-nos à era moderna como sendo a era do primado da ciência sobre tudo o resto. Mas o que o homem comum desde há muito se habituou a identificar como ciência está mais longe de o ser do que a velhinha alquimia que se praticava nos tempos antigos.

 

Aquilo a que convencionámos chamar de ciência não é mais que um ritual pouco sério e pouco credível. Chamam-lhe método científico e a sua criação foi, no seu tempo, revolucionária. Estabeleceu os princípios para se analisar fenómenos, para se isolar fatores e condicionantes e se poder extrair relações de causalidade efetivas. Nasceu das ciências abstratas e puras e o seu sucesso rapidamente alastrou a todas as áreas do saber, inclusivamente às chamadas ciências sociais e humanas que, por isso mesmo, passaram a exibir orgulhosamente o epíteto “ciência” nunca antes a elas aplicado.

 

A questão é que o método científico não garante nem confere rigorosamente nada a nenhum estudo: não garante qualidade, nem causalidade, nem confere autoridade a nenhuma conclusão que deles se retire. O que faz é estabelecer critérios que mais não são do que bases de aplicação teóricas apenas verificáveis e aplicáveis em trabalhos teóricos de ciência pura. Nas ciências práticas e, sobretudo, nas ciências sociais e humanas, o isolamento de qualquer variável ou a escolha de uma amostra equilibrada é manifestamente impossível o que invalida o método e as conclusões de todo e qualquer estudo. Em bom rigor, estes estudos apenas poderão servir para apontar um caminho ou uma tendência. As suas conclusões reduzem-se a meras sugestões. Isso mesmo: sugestões, não leis.

 

Não é por acaso que a sociedade atual vive assolada por estudos frequentemente contraditórios. Não é por acaso que todos os dias surgem conclusões “científicas” que contrariam as que foram retiradas no estudo anterior. Isto é fruto de um uso errado natural mas também abusivo de um método desadequado. Na era atual governada pela burguesia e pelos seus interesses, a ciência é também uma refém natural. Não só faz um uso do método científico para produzir os resultados esperados pelos seus mecenas como, dentro das suas próprias fronteiras, a competitividade desenfreada e obcecada por resultados rápidos resulta normalmente numa manipulação forçada do método, da escolha enviesada das amostras e num tratamento estatístico abusivo da informação recolhida.

 

Na base de todo o processo reside um objetivo fundamental: o controlo e a manipulação das massas e do seus pensamento. A ciência está reduzida a isto na era moderna: uma pseudociência, uma ferramenta para uma tarefa, um meio para se atingir um fim, longe do conhecimento e da verdade onde a verdadeira ciência deveria residir. Muito longe.

publicado às 21:27

Mais sobre mim

imagem de perfil

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub