Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

A corrida ao espaço — uma retrospetiva reflexiva

Hoje dei por mim a folhear documentos antigos e a relembrar alguns momentos da história da corrida ao espaço (Space Race), uma disputa científica que opôs os Estados Unidos da América (EUA) à então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e teve o condão de alimentar a imaginação dos homens e mulheres da época de ilusões e esperanças com o quebrar da derradeira fronteira.

 

O final da Segunda Grande Guerra deixou a geopolítica mundial nas mãos de duas superpotências: os EUA, a nação que mais cresceu e lucrou com as duas Grandes Guerras através das exportações massivas para os vários lados dos conflitos e da dívida gerada no processo; e a URSS, uma nação jovem, fortemente massacrada na pele pelas duas Grandes Guerras, com grandes carências, mas que vinha aproximando-se dos EUA nos domínios da indústria e da economia e ultrapassando largamente os EUA no que diz respeito a todos os índices sociais, de educação e de saúde.

 

A criação da NATO, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, por parte dos EUA, que tinha como objetivo inscrito e declarado o combate ao comunismo, foi o mote para a instituição de um clima de hostilidade entre as duas potências, estes dois regimes tão díspares, tão diametralmente opostos, tão contraditórios do ponto de vista filosófico e de valores, que vigorou até praticamente ao final do século passado, e ao qual se convencionou chamar de “Guerra Fria”.

 

Olhando para a poeira desses tempos passados, uma das facetas mais interessantes e entusiasmantes dessa Guerra Fria foi, sem dúvida, a corrida ao espaço. Na segunda metade do século XX, sobretudo, as duas potências digladiaram-se numa disputa científica pelos maiores feitos no que diz respeito à conquista do espaço. Para os EUA, esta contenda significava uma categórica afirmação de superioridade própria, do país relativamente aos outros e à URSS, mas também uma superioridade dogmática do capitalismo relativamente ao comunismo. Para a URSS, significava a sua afirmação no mundo, do seu projeto e do seu ideal e, claro, também uma vitória da convicção no comunismo sobre o capitalismo.

 

Ao contrário do que muita gente pensa, ou adivinha sem saber, a guerra do espaço foi inicialmente amplamente ganha pela URSS que venceu sucessivas batalhas infligindo aquilo que os próprios media americanos descreveram como duros golpes e tremendas humilhações aos EUA. Em agosto de 1957, a URSS lançou o primeiro satélite no espaço, o Sputnik. Os EUA ficaram incrédulos por terem sido tão completamente ultrapassados pelos seus rivais. Tanto assim foi, que os jornais encheram-se de críticas, chegando mesmo a acusar o sistema educativo americano da culpa daquela derrota pela sua incapacidade ou inépcia em formar bons valores na ciência. Um mês depois, a URSS lançava a Laika no espaço, o primeiro animal a orbitar o planeta, abrindo as portas para o ser humano seguir-lhe as pisadas.

 

Para adicionar escândalo a esta dupla derrota, os EUA apressaram-se a lançar em dezembro de 1957, apenas quatro meses depois do lançamento do Sputnik, o satélite Vanguard que, depois de subir uns poucos metros, explodiu em chamas. A resposta dos EUA à URSS revelou-se patética. O Vanguard ficou conhecido pela alcunha pouco abonatória kaputnik. Mas a história não ficou por aqui.

 

Em abril de 1961, Iuri Gagarin, soviético, tornou-se no primeiro astronauta, ou cosmonauta como os russos chamavam. A bordo da nave Vostok, Gagarin deu uma volta completa em torno do planeta e regressou em segurança. Neste ponto, a URSS superava os EUA em todos os domínios da corrida ao espaço.

 

Completamente derrotados e desacreditados, os EUA lançaram-se num ambicioso objetivo em serem os primeiros a pisar a superfície da Lua, eles que estavam tão ultrapassados e atrasados em tudo o resto. Houve nesse objetivo algo de simbólico mais do que qualquer outra coisa. Na altura, ninguém que fosse minimamente sério na área espacial conseguia perceber muito bem a razão de ser de tamanha empreitada que não fosse simplesmente a capitalização em termos de reputação e glória. Tal veio, com efeito, a consumar-se em julho de 1969. Neil Armstrong, americano, tornou-se no primeiro homem a pisar a face da Lua. As imagens da façanha foram transmitidas em direto pelas televisões. As suas palavras, Um pequeno passo para um homem, um gigantesco salto para a humanidade, ficaram para sempre gravadas nos corações de todos.

 

Hoje em dia, evidências várias apontam para a encenação da expedição: a bandeira esvoaçando com o vento lunar, as sombras suspeitas, as incríveis parecenças com filmes de Hollywood que tinham sido realizados há pouco tempo e muitas outras coisas, mas sobretudo, a incapacidade tecnológica americana na altura para realizar o feito. É claro que o mito ficou e perdurará contra todas as evidências que vão sendo, cirurgicamente, apagadas dos cantos das páginas da História, nem que não seja pelo inexorável desaparecimento das poucas pessoas que, como eu, sabem e têm memória. Não fugindo à regra, a minha vez também chegará. Quando a última voz dissonante deixar de se ouvir e, enfim, desaparecer, entraremos numa consonância perfeita de uma só narrativa dogmática de vozes inconscientes e ignorantes. Porque quem domina o mundo dita também o que os livros de história nos contam.

 

Acredito que os melhores engodos são efetuados a uma audiência com disponibilidade para ser enganada. Todos os sinais indicavam que a caminhada na Lua seria um engodo. Os EUA não tinham capacidade para o fazer. Mas nós quisemos acreditar no que víamos. Os nossos olhos brilhantes, ávidos, como os de uma criança que vê pela primeira vez as luzes do Natal, quiseram acreditar-se. Não há razão, não há verdade, que seja mais forte do que isso.

publicado às 22:04

Mais sobre mim

imagem de perfil

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub