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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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A Caixa está a morrer e ninguém quer saber disso

O que está a acontecer à Caixa Geral de Depósitos é assustador mas também é revelador de uma assustadora fragilidade dos alicerces que sustentam a nossa sociedade.

 

Outrora o banco mais sólido e mais confiável do país, com uma credibilidade incrementada pelo estado que somos todos nós, a Caixa está a ser desmantelada peça por peça e no final deste mesmo ano civil já não restará nada a fazer sobre o caso.

 

Sobre este assunto escrevi no início deste mês um artigo algo inflamado que pouco ou nenhum eco teve.

 

A Caixa está a morrer, matam-na com plena consciência, e ninguém quer saber. Por ventura a Caixa teria para mim um significado que para os outros não tem ou nunca teve. Mas independentemente de sentimentalismos que, objetivamente, não têm lugar nesta economia de mercado de bestas selvagens, a morte da Caixa é o estado a dizer categoricamente e de uma vez por todas que a economia do país está entregue nas mãos da alta finança burguesa. Não é que informalmente isso já não fosse assim, mas agora não é mais informal, é formal mesmo, de papel passado e assinado por todos.

 

A Caixa está a morrer e ninguém quer saber disso. Espanta-me, em particular, o conjunto dos funcionários da Caixa e os seus movimentos sindicais. Vivendo o seu dia-a-dia sob o cutelo do encerramento dos seus postos de trabalho, da mobilidade e do despedimento, vendo claramente o que se está a passar in loco e melhor do que ninguém, todos eles com graus universitários em economia e finanças, encontram-se perfeitamente paralisados de movimentos. Todos eles percebem bem o que se está a passar. Alguns ensaiam justificações mais ou menos patéticas quando se lhes dirige alguma pergunta. Outros encolhem os ombros. Quando a Caixa fechar fechará para todos, independentemente das patetices das justificações. O tempo de agir foi ontem e é agora. Se calhar ainda vão a tempo.

 

Mas não me parece.

 

O que me parece é que só ensinam imbecilidades e patetices nestas faculdades de economia e finanças. E ensinam este pensamento único deste capitalismo obsoleto que apenas serve a concentração da riqueza e a exploração dos povos.

 

A Caixa está a morrer mas antes de darmos plenamente por isso ainda vamos conviver com ela em modo de cadáver por alguns anos. O cadáver da Caixa vai continuar, minimal, com número reduzido de balcões, a atender os reformados e os pensionistas pobres aos quais não são cobradas taxas de manutenção de conta. Depois, mesmo esses, tal como os outros, serão também corridos da Caixa e far-se-á o enterro do cadáver.

 

Custa-me muito descrever por palavras isto que a direita — da qual o governo é ator principal — está a fazer à Caixa. Custa-me muito que ninguém queira saber disto, nem povo, nem Partido Comunista Português, nem Bloco de Esquerda, nem sindicatos, nem ninguém. Todos assistem à morte da Caixa e ninguém diz nada, ninguém faz nada. Que tenham a dignidade de não verter uma única lágrima hipócrita quando a Caixa morrer.

 

PCP e Bloco apoiam o governo e, por inerência, o que o governo faz. Não há meio termo. Assumam-se! E, já agora, poupem o país às inúteis comissões de inquérito parlamentares do costume e à procura de bodes expiatórios para o assunto quando o assunto estiver concluído. Paulo Macedo está a matar a Caixa agora tal como o governo lhe pediu. É tirá-lo de lá agora enquanto é tempo. Amanhã será tarde. Preocupem-se com isto em vez desta ou daquela migalha no IRS na negociação do orçamento de estado. Preocupem-se não em garantir migalhas mas em obrigar o governo a não governar à direita em tudo o que realmente interessa.

publicado às 12:25

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