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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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Uma vaia é apenas uma vaia

Manuel Valls é o primeiro-ministro francês. Perante os atentados terroristas disse “vai haver outros atentados em grande escala” e “haverá sem dúvida mais vítimas inocentes”. Hoje, Manuel Valls foi vaiado pela população durante o minuto de silêncio às vítimas do atentado de Nice.

 

Manuel Valls é o símbolo de uma forma de fazer política. Por momentos, parece que não é o primeiro-ministro de França mas apenas um mero comentador de café. Por vezes, parece que não tem a seu cargo a gestão e a organização de um país inteiro, parece um qualquer irresponsável a dizer baboseiras, resguardado na sua própria noção de “verdade” que trata de impor ao mundo inteiro. Esta forma de fazer política é asquerosa.

 

No limite, se Manuel Valls for realmente o incompetente que as suas palavras denotam, não tem mais que fazer se não apresentar a sua demissão e ceder o lugar a quem se proponha fazer melhor, a quem se proponha evitar “outros atentados em grande escala” assim como “mais vítimas inocentes”. Mas ele não arreda pé: declara por antecipação o seu fracasso, mas não abdica do seu lugar, quase como dizendo, sobranceiramente, que ninguém faria melhor do que ele, o iluminado Valls. Perante as circunstâncias, vaiar Manuel Valls foi pouco. Uma vaia é apenas uma vaia.

 

Em Portugal também temos muitos políticos da mesma massa pútrida de Manuel Valls. Nos últimos anos não faltaram os que diziam não haver alternativa ao país a não ser empobrecer, empobrecer e empobrecer. Também diziam trazer a “verdade” e não cederam o seu lugar a quem pudesse ambicionar fazer melhor. Também foram vaiados. Também as vaias de que foram alvo foram insuficientes. A maior parte dos portugueses continua a preferi-los. Somente nas urnas se pode dar o tratamento merecido aos políticos do género de Manuel Valls. Uma vaia, repito, é apenas uma vaia.

publicado às 22:40

Governos Vichy e colaboracionistas contemporâneos

Quando o Terceiro Reich conquistou a França, foi dissolvida a terceira república francesa e instaurado o chamado État Français. O governo fantoche, então criado, passou a ser conhecido como o governo Vichy, por ser sediado nessa cidade francesa que fica a sudeste de Paris, próximo de Clermont-Ferrand.

 

http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/03072/vichy_3072505b.jpg

 

Hoje, a História é recontada simplesmente em jeito de vitimização do povo francês. A realidade, contudo, está longe, bem longe, desse processo oportuno de vitimização.

 

O governo Vichy não era simplesmente um governo resignado às contingências da sua realidade: era um governo ativo, bem mandado, colaboracionista. E não era, não foi, um governo isolado popularmente — longe disso! Há quem diga que o povo está sempre com quem ganha, seja no futebol, seja na política. Seja por isso ou por outra razão qualquer, o governo Vichy tinha num despertar massivo de franceses fascistas e anticomunistas um suporte que era concreto, que era substancial e não vestigial como a História recontada nos diz. Mesmo muitos daqueles que pudessem não ser nem uma coisa nem outra — o que frequentemente resulta em sê-lo por omissão — apoiavam declaradamente o governo Vichy e a sua natureza antidemocrática e fascista. Diziam, então, que era algo necessário para que a França conservasse alguma da sua autonomia.

 

Para os franceses perder a sua liberdade era algo necessário para que a França conservasse alguma da sua autonomia. Não me enganei no que escrevi. É curioso que exatamente a mesma argumentação surge na boca dos defensores da austeridade alemã/europeia nos dias que correm: a austeridade é algo necessário para conservarmos alguma da nossa autonomia. Muito curioso...

 

O que pretendo com esta entrada é desmontar aquela ideia, frequentemente associada à História capitalista da Segunda Grande Guerra, de que uma boa parte do conflito se deveu a dois ou três desequilibrados que enganaram a maioria do povo. Não foi assim. A Segunda Grande Guerra foi feita pelas pessoas, as mesmas a que chamamos de “normais”. E os governos colaboracionistas foram muito reais. A Alemanha Nazi teve o apoio de inúmeros países europeus que literalmente lhe estendeu passadeiras vermelhas para que marchassem Europa fora.

 

Apenas com uma visão lúcida sobre a História poderemos ser capazes de evitar que a mesma se repita. E ela aí está, a repetir-se, mesmo diante dos nossos olhos!

 

Hoje a ideologia Nazi não se manifesta abertamente, declaradamente, mas está aí: a xenofobia, a ideia de superioridade física e moral dos povos nórdicos perante todos os outros. Vemo-lo na questão da dívida. Vemo-lo na questão dos refugiados. A Alemanha não conquista hoje pelo poder das armas, não usa tanques de guerra, blimps ou motos com sidecar: conquista pelo poder da banca e das dívidas soberanas. E os governos Vichy... aí estão eles, completamente vergados à vontade alemã, completamente entregues, com os seus políticos colaboracionistas, cegamente a defender a austeridade, cegamente a defender a vontade alemã/europeia.

 

Nesta semana, soubemos que Manfred Weber, o líder do PPE, o Partido Popular Europeu, partido com assento no Parlamento Europeu que agrega os partidos da social democracia e da democracia cristã, e do qual fazem parte o PSD e o CDS, enviou uma carta a Jean-Claude Juncker, o Presidente da Comissão Europeia, a solicitar a aplicação de sanções aos países da zona euro que não tenham cumprido o défice de 3% em 2016, Portugal incluído.

 

Que papel é este a que os eurodeputados portugueses do PPE, os do CDS e do PSD, se prestam se não o de contemporâneos colaboracionistas? Que papel é este?! Por que não se demarcam? Por que não abandonam o PPE imediatamente? Noutros tempos, tais atitudes seriam tratadas de uma forma bem diferente e bem “definitiva” por configurarem conspiração e traição à Pátria. Hoje, contudo, parece que é normal...

 

Aí temos, diante de nós, a História a repetir-se, a voltar ao ponto de partida, como um satélite na sua órbita elítica. Aí temos, diante de nós, o contemporâneo Terceiro Reich a ocupar toda a Europa sem que uma bala sequer seja disparada. E, com ele, os contemporâneos governos Vichy, a gerir os territórios de acordo com os ditames alemães, e os colaboracionistas que — democraticamente — os suportam e os justificam hoje como ontem.

publicado às 21:14

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