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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

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Reformados e pensionistas de todos os países UNI-VOS

No dia de hoje, logo pela manhazinha antes de sair de casa, vi João Oliveira, o líder parlamentar do Partido Comunista Português anunciar, em tom de regozijo contido, que o governo aceitara a proposta do PCP para um aumento mínimo de 10 euros sobre as pensões em sede do próximo orçamento de estado.

 

Ao que parece vamos ter mais do mesmo no orçamento de estado do ano vindouro, isto é, algo da mesma natureza do que tivemos nos orçamentos de estado dos anos passados: o PCP congratula-se e satisfaz-se com aumentos nominais de pensões. Sobre o código de trabalho nem uma palavra, infelizmente.

 

Assistimos a muitas medidas pontuais, insignificantes do ponto de vista global da economia e facilmente reversíveis. Por seu turno, nenhuma medida estrutural, nenhuma medida significativa. Nem o PS estaria para aí virado, bem entendido, e este é que é o ponto essencial: o que é estrutural o PS não mexe. Com efeito, o PS está a conservar o formalismo da sociedade portuguesa tal como o herdou do governo Passos-Portas.

 

O PCP parece não querer ver isto, mantendo-se deslumbrado e apaziguado com aumentos de 10 euros em pensões. Que estes aumentos são positivos, são. Não se entenda o contrário, nem que por um instante, destas palavras. Que o lema do PCP, que aparece mesmo acima do nome do seu jornal Avante!, Proletários de todos os países UNI-VOS, esteja em risco de ser trocado pelo mais atualizado Reformados e pensionistas de todos os países UNI-VOS, também.

publicado às 20:55

Transmissão de valores

Hoje tomei conhecimento de que Fernando Medina, a maior esperança política do PS, é filho de Edgar Correia e de Helena Medina, dois destacadíssimos comunistas e intelectuais do final do século XX.

 

Não deixa nunca de me espantar como é possível que dois comunistas sejam capazes de educar um não comunista.

 

Bem entendido, é certo que o filho pensará pela sua própria cabeça e também é certo que deterá o seu próprio património genético. Neste particular, é possível que “ser comunista” esteja codificado num gene recessivo. Também há a possibilidade — ainda mais provável devido à clandestinidade e cárcere dos pais em tempos de ditadura — de que o filho tenha sido educado pela ama e não pelos progenitores como seria devido. Tudo é especulação neste ponto.

 

A questão é que ser comunista é uma questão de princípio, é uma questão moral mesmo. Ser comunista é ver o mundo de forma diametralmente diferente e é algo que, uma vez adquirido, faz parte do ser. É indissociável. Nunca me deixa de espantar, por conseguinte, quando vejo que tal tarefa de transmissão de valores tão singulares, digamos, de pais para filhos falha tão redondamente. E é aquela sensação recorrente de se ver alguém que podia ser melhor do que o que é não ser mais do que o que é comum, do que é vulgar, no contexto do pensamento dominante. Para Fernando Medina ser aquilo que é do ponto de vista dos valores, bem que podia ser filho de outro casal qualquer, não precisava de ser filho de Edgar Correia e de Helena Medina. É um sentimento de desperdício.

 

Depois continuei a ler sobre o resto da vida de Medina, o casamento e os sogros. Aqui a história começou a tornar-se mais interessante, porque é sempre tão interessante conhecer os passos e os degraus que levam, um após outro, os poderosos ao poder. Os requintes do processo assemelham-se aos requintes com que uma aranha tece a sua teia e aguarda pelo momento oportuno para colher os seus frutos. Não privarei, todavia, os meus leitores do gozo de descobrirem esta parte da história por eles próprios. A história está aí, na rede. É só pesquisar.

publicado às 20:25

Banco de terras: a lição que o PCP deu

É curioso ter sido o Partido Comunista Português aquele que, esta semana, protegeu os pequenos proprietários do banco de terras proposto por PS e Bloco.

 

O banco de terras e o fundo de mobilização de terras, a serem criados, poderiam significar, na prática, uma espécie de nacionalização compulsiva de muitos pequenos terrenos sem que os proprietários tivessem uma palavra a dizer ou retirassem qualquer benefício disso.

 

É curioso, repito, que tenha sido o voto contra do PCP o responsável principal pela queda desta medida. Num mundo que sistematicamente abusa de chavões e de clichês anticomunistas, particularmente no que concerne ao conceito de propriedade privada, o PCP acaba por dar uma lição preciosa a quem quer que tenha os sentidos despertos para aprender: nem o comunismo é contra a propriedade privada nem se tratam de conceitos mutuamente exclusivos.

 

“Ah e tal, mas Marx dizia que o objetivo era a abolição de toda a propriedade privada.”

 

Mas de que é que estamos realmente a falar? De latifundiários? Então estamos de acordo. De pequenos proprietários? Não, claro que não.

 

Aliás, em qualquer sistema económico, seja ele qual for, a riqueza, a terra, tem que ser distribuída de algum modo. Daqui resulta que a existência de pequenos proprietários será sempre uma realidade. Agora, grandes acumuladores de terra, não. Latifundiários, não. Caso contrário, entre comunismo e capitalismo não subsistiria diferença visível e seriam ambos os sistemas promotores da concentração de riqueza. O objetivo do comunismo é, sim, a promoção de uma distribuição mais equilibrada da riqueza produzida. Daí a proteção aos pequenos proprietários e o voto contra qualquer medida que vise a concentração das propriedades.

 

Em todo este processo, nota ainda para a total colagem do PS aos interesses das empresas de celulose e da pasta de papel. Capoulas Santos, pelos vistos, até teve que ser afastado da mesa de negociações para se poder chegar a um entendimento mínimo. Até há pouco tempo nunca tinha percebido a razão de ser da presença de Capoulas Santos em sucessivos governos PS. Foi preciso este processo para o entender sem qualquer dúvida.

publicado às 15:41

O PCP e a cultura do miserabilismo político

Acho que devemos ser exigentes na política, sobretudo nas áreas de que somos mais próximos. Percebo todos aqueles que assobiam para o ar e que preferem não apontar o dedo ao que é óbvio. Entendo bem. A política é uma batalha de ideais e as críticas devem-se reservar para os momentos de reflexão interna para não dar armas ao adversário. Tudo isto é verdade, mas tudo isto é inútil e contraproducente quando parece que se perde a razão ou o sentido das coisas. Repito: devemos ser ainda mais exigentes com o que nos é querido, precisamente porque para o que nos é querido queremos o melhor.

 

Há uns tempos, aquando da recondução de Jerónimo de Sousa no PCP, escrevi um artigo criticando a opção que, aos meus olhos, pareceu inconcebível. Volvidos alguns meses, todas as razões que fundamentaram a minha opinião permanecem intactas. O PCP escolheu reconduzir um secretário geral que se apresenta demasiadamente cansado e velho, que repete um discurso gasto, pejado de graçolas que já não têm graça nenhuma, uma presença infeliz e lastimável em todos os palcos que pisa, de onde se destaca negativamente o parlamento.

 

Malogradamente, esta lamentável condição do líder do PCP estende-se, quase que por contágio, a quase todos os parlamentares e políticos que representam o partido. Não sendo, muitos deles, demasiadamente velhos, a verdade é que o seu discurso parece ser escrito pela mesma pena, tamanha é a coleção de palavras comuns a todos eles. Não é isto de somenos, visto estarmos a falar da riquíssima língua de Camões, repleta de palavras sinónimas e de diferentes recursos estilísticos. Não obstante, desde os mais novos até aos mais velhos, parece que os papéis que leem são cópias de um mesmo original e o que dizem parece ter sido decorado numa espécie de ladainha de uma qualquer agregação religiosa. Novamente, entendo perfeitamente que alguma organização é necessária nestas matérias e que também é importante falar-se a uma só voz, mas isto... é demais. Todos os limites da decência intelectual são ultrapassados.

 

Enquanto que o Bloco de Esquerda, mesmo ali ao lado, exibe eloquentes vozes, discursos bem preparados e apelativos, parlamentares bem-apessoados, o PCP parece abdicar por completo dessa potencialidade fundamental no processo comunicacional. Ao fazê-lo de forma tão convicta, cria uma espécie de um culto do miserabilismo político, um culto do coitadinho. O PCP perde todos os debates? Não há problema, trata-se de um partido muito honesto, incapaz de passar a sua mensagem, mas honesto. As pessoas mudam de canal quando um comunista começa a falar? Não há problema, há de cair uma luz qualquer que as fará ouvir o que se tem para dizer.

 

Não interessa que o Bloco de Esquerda seja a conglomeração política mais incerta que existe em Portugal. Uma coisa não tem nada que ver com a outra. O Partido Comunista Português devia começar a olhar-se ao espelho e ver bem a figura que tem e a imagem que transmite.

 

Escrevo estas palavras motivado pelo conhecimento que tive de alguns dos candidatos do PCP a algumas das maiores autarquias da região do Porto. Ilda Figueiredo, por exemplo, é a candidata à Câmara Municipal do Porto. Ilda surge na mesma lógica da recondução de Jerónimo de Sousa: é uma figura histórica, de valor incomensurável para o PCP, mas com evidente falta de energia para tamanhas responsabilidades que o cargo exige. Mas por toda a região do grande Porto, os exemplos sucedem-se. Fosse esta situação o resultado da falta de quadros válidos e eu não estaria a escrever estas linhas. O problema é outro e é muito mais grave. É esta cultura de miserabilismo político, este fechamento interno, esta filosofia de seita religiosa, de organização piramidal, esta relação de pastor com as suas ovelhas.

 

Custa-me muito escrever estas palavras, mas acho que já chega de me tomarem por parvo, a mim e a tantos como eu, progressistas, marxistas, intelectuais altruístas sem qualquer interesse pessoal na política que não seja o de servir a comunidade.

 

Quando o PCP não faz do povo parvo, como por exemplo com Bernardino Soares em Loures, o povo responde afirmativamente. Quando o PCP começa a jogar o jogo do coitadinho, o povo responde de acordo, sempre. Esta parece ser uma lição difícil de aprender para o Partido Comunista Português.

publicado às 15:30

Ser “de esquerda” II

Nunca antes se experimentou, como hoje, tamanha degeneração dos conceitos políticos em geral e no que diz respeito à esquerda em particular. Uma boa parte das pessoas que se dizem “de esquerda” também se dizem a favor do sistema capitalista e, podendo eventualmente suportar o comunismo, são na prática anticomunistas.

 

Começa a ser surpreendente. Ainda noutro dia falei com um militante de um partido da esquerda que se dizia também monárquico. Monárquico!!!

 

“Mas monárquico?! Tem ideia de que ser de esquerda implica ser-se pela igualdade e pelo fim das classes sociais e económicas?”, perguntei eu.

 

“Classes sociais e económicas? Isso é coisa do passado. Isso é coisa de comunistas.”

 

Achei melhor não prosseguir, já tinha ouvido que chegue. Uma boa parte da “esquerda” está corrompida, está degenerada numa mistura grosseira de conceitos, numa massa informe de boas intenções unidas inconsistentemente por uma ignorância aguda, por uma falta de cultura assustadora.

 

Esquerda capitalista não é esquerda: é direita. É uma direita que põe o Estado, os trabalhadores e os mais pobres, a pagar almofadas sociais para compensar uma sociedade injusta. Este processo não torna a sociedade menos injusta, nem belisca a posição da burguesia no seu pedestal. É apenas um analgésico administrado aos povos.

 

Sob o capitalismo não pode haver justiça social ou económica. Está nos livros. Leiam e instruam-se. O capitalismo conduz à diferenciação social e económica e à acumulação de capital em monopólios. Mais: o capitalismo é contrário à democracia, porque induz o controlo do poder político pelo poder económico que está nas mãos da burguesia e da burguesia apenas.

 

E não se trata de um problema de condições de aplicabilidade do sistema, como muitos teóricos capitalistas procuram fazer crer. Arranje-se uma sociedade perfeita, equilibrada social e economicamente, justa e democrática — não existe um tal exemplo, mas imagine-se —; introduza-se o capitalismo nessa sociedade e, em menos de uma década essa sociedade inicial perfeita estará destruída: haverá muitos pobres e poucos muito ricos, haverá injustiça e falta de democracia, porque os poucos muito ricos controlarão a justiça e a política, a cultura e a educação. Adicionalmente — e é aqui que radica o sucesso do capitalismo enquanto sistema —, os poucos muito ricos controlarão os meios de comunicação e, com eles, farão os pobres sentirem-se muito bem com a sua condição, possivelmente melhor do que se sentiam antes, quando não eram pobres.

 

Isto está tudo estudado e documentado com exemplos e contextualização histórica. Desconhecendo o exposto ou, mais grave, tendo conhecimento mas ocultando a verdade do povo, esta “esquerda” capitalista concorre para os objetivos da direita e para a eternização da burguesia como a classe dominante nas nossas sociedades.

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publicado às 09:31

Porque lhes convém que não ousemos imaginar

Para todo aquele que possui alguma clarividência sobre o assunto ou alguma cultura histórica, a discussão em torno das palavras de José Rodrigues dos Santos não seriam, em momento algum, dignas de maior valorização do que, digamos, o ladrar irritado de um cão confinado à varanda de um apartamento ou do que a buzina persistente de um automóvel bloqueado no trânsito.

 

Dizer que o fascismo tem origem marxista é tão idiota, tão intelectualmente baixo, que não merece discussão. É procurar forçar conexões onde elas não existem para além do que é natural e do que ocorre, em boa verdade, entre qualquer par de conceitos humanos, sejam eles quais forem, sociais ou culturais. Porque este blog despreza o que é ignorante e o que é vestigial em bom-senso, passamos à frente, ignoramos o conteúdo da frase.

 

Mais grave do que o conteúdo da frase e que em boa verdade não é genuinamente novo — lembro que Miguel Sousa Tavares ensaiou uma tese análoga no seu medíocre segundo romance —, mais grave é a subliminar intenção que sustenta a frase. Essa intenção consiste em operar uma colagem do fascismo ao comunismo, quase como que por decalque, com intento claro de menorização do segundo, ao mesmo tempo que se procura limpar a memória histórica de íntima ligação, e de admiração dos métodos e do conceito, da burguesia e da igreja relativamente aos regimes fascistas onde quer que estes tenham medrado.

 

Comparar os regimes fascistas aos regimes comunistas é comparar o incomparável, é observar a realidade sob uma condição de miopia política aguda. Tal tentativa de comparação ganha fôlego apenas quando olhamos superficialmente para a natureza autoritária dos regimes. As similitudes, todavia, ficam-se apenas por aqui.

 

Comparar os regimes fascistas, regimes que oprimiam os seus povos, que os votavam às trevas da ignorância, à exploração burguesa declarada de um capitalismo de estado evidente — de uma burguesia que prosperava lado a lado com o poder, que era o poder verdadeiramente —, que mergulhavam as sociedades a um retrocesso generalizado em todas as áreas do saber e da cultura, com os regimes comunistas que, quer se queira, quer não, com maior ou menor sucesso, faziam precisamente o contrário, democratizando a educação, a cultura, o acesso à saúde, fazendo uma distribuição mais justa da riqueza produzida e dos recursos, só pode ser qualificado como desonesto e embusteiro.

 

O regime soviético, porque é este que se pretende atingir, não obstante os seus pecados que justamente devem ser apontados, pegou numa sociedade extremamente atrasada, quase que medieval — a sociedade russa czarista — e projetou-a para o topo do mundo em termos económicos, industriais e sociais, numa ascensão sem precedentes pelo curto espaço de tempo em que ocorreu — menos de meio século e tendo atravessado duas guerras mundiais!

 

A sociedade soviética foi pioneira em diversos domínios. Evidências disto mesmo podemos observar ainda hoje no nosso estado social europeu fortemente influenciado pelos ideais marxistas corporizadas a leste. Após a queda da União Soviética a esperança média de vida de um russo recuou quase vinte anos e apenas há poucos anos a Rússia contemporânea conseguiu recuperar essa esperança perdida.

 

Mesmo relativamente à natureza política do sistema, colar o fascismo ao comunismo soviético pelo facto de serem formalmente ditaduras é extraordinariamente redutor. No regime soviético ocorriam frequentemente eleições. Elegiam-se delegados e representantes que, por sua vez, elegiam os membros do comité central do partido único que, ultimamente, elegiam o líder. É verdade: não era uma democracia como a nossa e chamar-lhe democracia não deixa de ser forçado. Mas também não era uma monarquia absolutista. Teoricamente qualquer um poderia fazer parte do sistema eletivo. Aliás, por haver um certo grau de democracia no sistema soviético é que este foi capaz de ruir, isto é, foram capazes de penetrar no sistema e ascender ao topo gente cujo objetivo, revelou-se, era dinamitar a coisa.

 

Comparar regimes com objetivos e resultados tão distintos no que ao bem-estar da pessoa humana diz respeito é pouco profundo e pouco sério. É querer pintar tudo com as mesmas cores para esconder as diferenças relevantes entre eles. É por isso mesmo, no meu ponto de vista, que a sociedade alimenta a discussão sobre estas patetices sem pés nem cabeça. Interessa ofuscar a História. Interessa difamar e interessa impedir que se saiba. Interessa prevenir a todo o custo que se ouse imaginar que é possível um outro tipo de sociedade.

publicado às 09:19

Dizendo as coisas como elas são, para além de todo o preconceito

https://s3-us-west-2.amazonaws.com/nationaljournal/double-dippers/img/Sanders.png

 

Everything we feared about communism — that we would lose our houses, savings, and be forced to labor eternally for meager wages with no voice in the system — has come true under capitalism.

 

Tudo aquilo que temíamos no comunismo — perder nossas casas e posses, nossas economias, ter de trabalhar duro por um salário miserável sem voz no sistema — se realizou graças ao capitalismo.

 

— Bernie Sanders, candidato pelo Partido Democrata às primárias nos Estados Unidos da América

publicado às 19:41

Cinco dias e cinco noites

Deixei passar cinco dias e cinco noites sem escrever aqui no blog. De seguida, deixo algumas notas sobre o que tem acontecido nestes dias.

 

O Partido Comunista tem sido atacado de todos os lados e tem sido alvo de todo o género de argumentação muita dela espumada daquele preconceito secular que se sustenta na inveja e na ignorância. Todos procuram navegar na crista da onda que foi a derrota nas presidenciais. Todos procuram ser os primeiros a anunciar o ambicionado fim do PCP e do movimento comunista em Portugal. De notar, neste particular, a preponderância e o protagonismo de muitas partes que se dizem de esquerda.

 

É interessante notar que o Partido Comunista tem tido nestes dias o espaço mediático que nunca antes teve, ocupando espaço opinativo anteriormente vedado. Servem para este propósito todo e qualquer pretexto, inclusivamente a infeliz adjetivação de Jerónimo, “engraçadinha”, que rapidamente assumiu proporções surreais. Se o que disse Jerónimo não parece interessar a ninguém, muito menos interessará o que Jerónimo realmente terá procurado dizer e sobre isto poder-se-ia discorrer muitíssimo.

 

Mas a contradição reside aqui mesmo. O candidato apoiado pelo Partido Comunista Português obteve escassos quatro pontos percentuais de votação relativa mas, ainda assim, revolvem-se os espectros da comunicação social agoirando a morte do comunismo, apressam os comentários, remoem-se os preconceitos e as difamações fáceis, desmultiplicam-se os ataques. Creio que o Partido Comunista é o único partido português que, com escassos quatro pontos percentuais de votação, assusta e apoquenta tantas e tantas forças contra si.

 

Ao mesmo tempo assistimos serenamente ao processo autodestrutivo deste governo cuja atuação é desconcertante e desprovida de qualquer tipo de estratégia inteligível. A Europa tem um partido bem definido, toma partido e começa agora a falar mais grosso do alto da prepotência do capital que a criou.

 

O governo começa a deixar cair medidas orçamentais, uma atrás da outra, escudando-se na sua própria covardia, isolando-se cada vez mais, encurralado entre a Europa e a esquerda, ambas com acordos na mão. Mas mais relevante é este governo ver-se popularmente diminuído e deslegitimado, facto resultante das últimas eleições e que, ultimamente, traça o seu fim próximo.

 

Passo Coelho, por seu turno, continua a comportar-se como se ainda fosse Primeiro-ministro. O seu discurso é impermeável de realidade e de responsabilidade, de memória ou decência. Fala qual personalidade carregada de virtudes e credora da admiração de todos. Nota-se, contudo, que a atitude e o discurso não são por acaso. Ouvir o povo referir-se a Pedro Passos Coelho chega a ser embaraçoso. O povo prepara-se para empossar o seu próprio carrasco uma vez mais forçando-o a terminar o serviço encetado há mais de quatro anos.

 

O povo é soberano nas suas escolhas mas não é por isso que as suas escolhas deixam de refletir a sua própria natureza, nem o inibem das suas consequências e responsabilidades. E o tempo em que tanto umas como outras serão colhidas como feixes de trigo tenro está para chegar.

publicado às 17:12

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