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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

O partido que é um corpo de partes autónomas

Os cartazes do Bloco de Esquerda têm o condão de me ofender. É assim, não o posso controlar. Eu faço por me meter na minha vida, faço por ir focado no trânsito, mas de repente, basta parar por um instante num semáforo vermelho e... pimba! Apanho com um cartaz do BE, naquele estilo gritante, no meio dos olhos! Assim, sem poder fazer algo por isso. E, depois, sou obrigado a seguir até ao fim da viagem com aquela frase na cabeça, que é assim um ponto de compromisso entre um insulto à minha inteligência e um insulto à minha capacidade de memorizar factos, que fica ali a revolver e a macerar dentro da minha cabeça.

 

https://www.abrilabril.pt/sites/default/files/styles/media_photo_embedded_layout-small-vertical/public/cartazes_be_reformas.png?itok=Yqohy1c0

 

Desta feita, o novo cartaz do BE que para aí anda anuncia, entre outras coisas, «40 anos de descontos, reforma completa». Ora, porque é que isto me ofende se eu não tenho nada contra a medida? É simples: no parlamento português, lugar próprio onde esta e outras medidas são apresentadas, o BE decidiu apresentar, em vez desta, uma outra medida bem diferente, um projeto que propunha uma penalização na reforma, entre 14 a 20 por cento, para quem se reforme aos 63 anos de idade e com 43 — 43, leu bem! — anos de descontos.

 

É importante, neste ponto, que o leitor se inteire bem do que foi escrito. O que tem a proposta legislativa em comum com as gordas do cartaz? Nada. É a primeira vez que isto acontece? Não. Política sem prática não é política, é oratória.

 

Desengane-se o leitor, o Bloco de Esquerda é isto mesmo: um corpo de partes autónomas cada uma das quais com uma boca própria. É provável que quem faz os cartazes do partido não fale e até esteja de relações cortadas com quem faz política na Assembleia da República. Chamar partido a uma organização deste género será mesmo abusivo. Não há partido, não há vestígio de unidade. Mas também pode ser pura extrapolação dos factos da minha parte. Pode ser simplesmente um sintoma da natureza de base populista que fez nascer o BE e daquela vertigem pelo mediatismo que é sempre alimentada e está sempre presente. Diz uma coisa para o povo ouvir e acreditar, faz outra coisa diferente pela calada.

 

Neste sentido, o Bloco não é muito diferente dos outros partidos do chamado arco da governação, PS, PSD e CDS. Este cartaz, em particular, é muito similar aos inenarráveis cartazes do CDS que apresentam Assunção Cristas como uma “santa” cheia de boas intenções, esquecendo de referir, convenientemente, as responsabilidades diretas e indiretas da pessoa nos governos em que participou.

publicado às 09:20

A política portuguesa está estranha

Confesso que me sinto confuso com o Portugal político contemporâneo. No passado, a esquerda não tinha força política parlamentar. O poder esteve, desde as primeiras eleições livres após a revolução de 74, entregue aos partidos do chamado arco da governação, PS, PSD e CDS, que, com diferenças pontuais de estilo, muito subordinadas, aliás, às lideranças que neles pontificavam, guiaram o país por um mesmo caminho. Esse caminho que se faz longo na poeira dos nossos passos coletivos é o caminho da liberalização da sociedade.

 

Os teóricos de direita vociferarão contra a factualidade deste ponto e, em parte, terão razão. O objetivo não é a liberalização total, ampla, generalizada. O objetivo não é um capitalismo puro e selvagem, mas antes um capitalismo de estado, um capitalismo em que o estado se constitui como simultaneamente o advogado e o juiz de um corpo só dos interesses da classe burguesa. O problema é que a razão destes teóricos de direita só encontra sustentação na sua própria teoria económica que é assim uma miscelânea de conceções ilusórias, axiomas débeis e enviesados e matemática medíocre. Não há, com efeito, um único exemplo de capitalismo que não possa ser qualificado como capitalismo de estado. E quando temos dúvidas sobre estas questões, devemos olhar diretamente para os Estados Unidos da América, que é o melhor exemplo de um país estruturalmente cristalizado para proteger os interesses das suas multinacionais burguesas. O presidente dos Estados Unidos da América consegue mais facilmente lançar um míssil sobre um outro país para garantir uma reserva de óleo do que passar uma lei sobre a educação ou sobre a saúde dos americanos.

 

Mas afastei-me da minha linha de raciocínio. No passado, a política em Portugal era simples: o rebanho governamental estava entregue aos lobos da direita, tivessem eles melhores ou piores vestes de cordeiro. À esquerda restava a rua. Melhor: ao Partido Comunista Português restava a rua.

 

É bom lembrar que o Bloco de Esquerda é um fenómeno recente que, ainda hoje, volvidos dezoito anos após a sua formação, mantém uma ligação ao povo pouco mais que vestigial. Neste ponto, atacam-me os bloquistas apontando para a maior expressão parlamentar do seu partido face ao PCP e têm razão. A política portuguesa está a mudar, está estranha. Como pode um partido que não tem uma freguesia, quanto mais uma autarquia, em todo o território nacional ter a expressão que o Bloco tem a nível parlamentar? É estranho. Como digo, a política está a mudar e o Bloco tem lucrado com isso. Será essa mudança sustentável? O passado sugere que o eleitorado do Bloco é pouco sólido, flutuante, que se baseia num protesto pouco refletido e muito condicionado à situação atual e, portanto, de natureza egoísta. Com Francisco Louçã, por exemplo, um político e parlamentar muitíssimo mais capaz do que Catarina Martins, o Bloco passou do oitenta para o oito de uma eleição para a outra, que é como quem diz, da noite para o dia. Podia ensaiar duas ou três explicações para o fenómeno, sendo que a minha preferida é a inconsistência ideológica aberrante do Bloco de Esquerda de cuja origem trotskista atinge, no mundo contemporâneo, a mais refinada versão. Tenho consciência, porém, de que qualquer ensaio de explicação esbarraria na realidade que é a absolutamente insondável vontade das massas. Não há lógica que resista a essa parede que é a realidade e que nos surpreende a cada esquina.

 

Perdi-me novamente, peço desculpas. É que esta problemática é complexa e é difícil expor o que penso com clareza sem dispersar-me. Servia isto para dizer que, incluir o Bloco de Esquerda nos movimentos das massas, na dinamização da rua não é muito relevante. O Bloco não tem rua, só tem parlamento. Como dizia, ao Partido Comunista restava a rua, as organizações de trabalhadores, o movimento sindical. A rua era a forma de o Partido se fazer ouvir, de dar voz aos trabalhadores, ainda que estes, em maioria, não a quisessem ter. A rua foi a forma de contrariar a hegemonia da direita sobre a sociedade, de se garantir que alguns direitos permanecessem e que outros fossem conquistados ao ímpeto liberalizador dos sucessivos governos.

 

Mas hoje... Hoje o Partido Comunista tem voz no parlamento. Hoje o Partido Comunista é fundamental para que haja governo. Hoje o Partido Comunista pode estabelecer as regras do jogo, dizer por que é que troca o seu apoio parlamentar a este governo. E na verdade, fê-lo. Trocou-o pela defesa dos funcionários públicos e pensionistas e por um punhado de outras minudências. Para mim é muito estranho assistir à manifestação de ontem, àquelas palavras de ordem que conheço de cor. Aquilo que para mim era real, aquilo que era vivo, aquilo que era a força e luta legítimas e honradas de uma minoria política sem expressão parlamentar, porque era disso que se tratava e ainda se trata, resultou numa espécie de encenação que se faz porque se faz e porque se tem que fazer. O Partido Comunista Português assumiu definitivamente, neste quarto ano de mandato governamental, uma dupla face, um jogo duplo: no parlamento protege o governo e defende-o — o que ainda é o mais penoso de se observar — a troco de ganhos de classe minimais; na rua exulta os demais trabalhadores a lutarem pelos seus direitos, os mesmos que não são atendidos no parlamento nem considerados pela ação governativa.

 

Bem sei que há condicionantes importantes na ação do PCP e tenho plena consciência de que, acaso o PCP exigisse mais do governo, a coligação cairia no mesmo dia. Tudo isto é uma questão de estimar o peso relativo dos pratos de uma balança, de fazer a diferença entre os ganhos e os proveitos de uma solução de compromisso. Mas isso é uma outra história, a qual seria importante aprofundar, porque quando se parte para uma solução deste tipo — e foi o PCP que a criou — é preciso ter consciência plena no que é que se está a meter. Do que este texto trata é de outra coisa, é de uma questão de caráter e de identidade. Um partido que pede aos seus seguidores para lutar na rua por aquilo que os seus dirigentes não lutam com todas as suas forças e armas no parlamento é de todo em todo indecente. Não há outro qualificativo. E sim, não basta apresentar propostas de lei que se sabe que serão chumbadas pelo PS, pelo PSD e pelo CDS. E mais: assistir a isto tudo — já lá vão três anos! — e continuar a apoiar o governo é revelador de uma grande falta de respeito e de dignidade pelo partido e pelos seus militantes.

publicado às 09:44

O PCP cai sempre que nem um patinho

Uma vez mais, o Bloco de Esquerda veio ao parlamento com um voto de condenação, desta feita baseado num rumor sem qualquer tipo de fundamento sobre um suposto campo de concentração para homossexuais na Chechénia. A própria fonte em que se baseia não confirma a existência de um tal campo. Mas o Bloco de Esquerda é mesmo assim, o que se há de fazer? É a sua natureza: é um partido de votos de condenação, é um partido de tomadas de posição sobretudo sobre questões mediáticas e capazes de potenciar a sua visibilidade.

 

Tomar posição é positivo, bem entendido, mas quando se o faz à pressa, na vertigem do mediatismo, apenas se demonstra falta de maturidade e falta de bom senso. Mas o Bloco de Esquerda é isto mesmo, é um partido que vive destas questiúnculas porque não se afirma ideologicamente no que realmente importa. Ora é a favor da moeda única, ora é contra; ora Sá Fernandes é um grande homem para a câmara de Lisboa, ora não é; ora o SYRIZA é um modelo de partido de esquerda moderna, ora não é. E mais: o BE está-se completamente a marimbar para as consequências diplomáticas de um voto de protesto parlamentar infundado e ofensivo a países estrangeiros soberanos. Este comportamento é mais próprio de garotagem que quer aparecer a todo o custo do que propriamente de pessoas de responsabilidade.

 

Mas a verdade é que isto tão pouco interessa. Com este voto, o BE marcou posição mediática. Isto é que era importante. A sociedade dos likes e dos shares adora estas coisas, vive para isto, emociona-se e revolta-se com estas palhaçadas fabricadas. Os outros partidos, os do arco do poder, sempre conscientes da importância do ficar bem na fotografia, sobretudo se se trata de homossexualidade — uma matéria sobre a qual uma grande parte da sociedade se efervesce facilmente —, também votaram a favor do tal voto de protesto sobre um suposto campo de concentração de cuja existência ninguém confirma. Incrivelmente, o único partido que disse “Eh pá, mas agora estamos a votar rumores da internet no parlamento?” e teve a correção de se abster desta fantochada, o PCP, veio afinal a ser enxovalhado de tudo pela sua ação na praça pública mediática. O DN, por exemplo, diz, em gordas, Parlamento - PCP abstém-se na "condenação da perseguição" de LGBT na Chechénia. Repare-se que o voto de condenação proposto pelo BE não visava a perseguição de homossexuais mas sim a existência de um campo de concentração, facto tão confirmado quanto a existência de uma fábrica de brinquedos operada pelo Pai Natal e seus elfos na Lapónia. Todavia, quem lê frases deste género fica, na verdade, com uma péssima imagem do Partido Comunista Português e isto é o que ultimamente mais conta.

 

Uma vez mais, o PCP caiu que nem um patinho na armadilha montada. É daquelas armadilhas, todavia, que não há como fugir. Quem é minimamente sério não tem outro remédio se não cair nelas, de frente, de pé. O problema não é o PCP. O problema é esta sociedade de garotos e de canalhada que vive somente em frente ao facebook.

publicado às 08:31

CGD: sinopse de uma novela

O caso Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem que forçosamente ser contemplado desde longe. De perto, com o nariz colado ao plasma ou ao LCD, as notícias que se sucedem afogam-nos num enredo burlesco, de conteúdo pouco relevante, que nos afasta do essencial, não nos permitindo obter um entendimento claro sobre os acontecimentos. A sequência dos eventos impinge-nos uma opinião genérica de genuína repulsa por todos os intervenientes sem distinção. Na verdade, não conseguimos distinguir este, daquele ou daqueloutro e a todos condenamos segundo os mesmos genéricos princípios e isso é, na realidade, não condenar ninguém, é deixar tudo na mesma.

 

Se dermos uns passos atrás, todavia, o caso CGD reveste-se todo ele de um simbolismo sinistro relativamente a um retrato mais apurado da sociedade em que vivemos, daquilo que coletivamente somos, como que um diagnóstico cabal do estado doente em que nos encontramos.

 

Damos, portanto, dois passos atrás sobre a sucessão dos episódios da novela para produzirmos um melhor entendimento.

 

Vamos ao princípio: o caso começa com o anterior governo, o qual se empenhou em liquidar o banco público. PSD e CDS tudo fizeram em termos de influência em gestão danosa para depauperar a Caixa — em tempo oportuno, alertei para este facto — num misto de ações injustificáveis de suporte à banca privada e a outros intervenientes do setor. O objetivo era claro: deixar a Caixa num tal lastimável estado que não pudesse subsistir hipótese alguma para além de a entregar de mão beijada nas mãos do capital privado. O objetivo da privatização da CGD era tão claro que o guião seguido pelo governo anterior foi precisamente o mesmo que foi aplicado a outras empresas entretanto privatizadas, das quais a transportadora aérea TAP é exemplo último.

 

Quando o atual executivo assume funções vê-se confrontado com esta situação de quase não retorno. Podemos especular que, acaso o governo não tivesse que responder perante os partidos que, à sua esquerda, o suportam parlamentarmente e para os quais a banca pública assume capital importância, talvez não tivesse sido tão enérgico e profícuo em resolver o imbróglio e, por esta altura, já a CGD não seria mais um banco público.

 

Foi neste contexto que o atual governo chamou António Domingues para desenhar um plano de recapitalização da CGD e recuperar o banco. António Domingues, vindo da banca privada — sempre esta relação suja de promiscuidade entre o estado e o setor privado —, exigiu — qual eleito pelos deuses —, contrapartidas muito curiosas para assumir funções, as quais incluíam um estatuto diferente dos demais gestores públicos que lhe permitisse, a si e à sua equipa, evitar uma declaração pública de rendimentos. Ao que tudo indica, o Ministro das Finanças terá concordado com tais exigências sob o pressuposto de conseguir aprovar no parlamento essa alteração à lei, facto que não veio a suceder.

 

Neste ponto, observe-se a moralidade decadente dos intervenientes, ainda que agindo dentro das fronteiras da lei.

 

Todavia, PSD e CDS, os mesmos partidos responsáveis pelo criminoso processo que conduziu a este lamentável estado contemporâneo da banca pública, têm alimentado uma ordinária ofensiva ao Ministro das Finanças com base numa interpretação de que este terá mentido numa comissão de inquérito. O festival protagonizado inclui a falta de respeito ao parlamento e ao Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, o obstar aos trabalhos da comissão de inquérito e a inusitada demissão do presidente da referida comissão.

 

Observe-se — palavra que isto nunca me deixa de espantar — o tempo de antena, a voz, que é dada pela comunicação social tanto a PSD como a CDS em todo este processo. É o mesmo que uma igreja fazer de um criminoso o seu novo pastor para pregar moralidade aos demais.

 

Ao mesmo tempo, António Domingues vai fornecendo informações avulsas sobre as comunicações que terá trocado com o Ministro das Finanças. Por que razão não as forneceu à comissão de inquérito em que foi ouvido, ninguém percebe.

 

O que para mim resulta de mais extraordinário depois de tudo isto é o facto de que nenhuma estrutura do país parecer estar preocupada com o facto de António Domingues não querer revelar a extensão do seu património. Não há vivalma que se interesse por isso. O que será que os bens de Domingues poderão revelar? Que “benfeitores” estará Domingues a proteger? Que sórdidas relações com os poderes do mercado de capitais poderão ser reveladas com a sua declaração de bens?

 

Uma coisa é certa: se acaso se tratasse de um cidadão comum a exibir um padrão comportamental deste tipo seguramente que a sua vida estaria já completamente escalpelizada na praça pública.

publicado às 21:03

Sobre o PEC, o mundo real e as abstrações idílicas

Coloco-me, uma vez mais, contra este governo e contra este estado de coisas e colocar-me-ei as vezes que forem precisas para acalmar a fúria que sinto dentro de mim, para poder, enfim, dormir um sono pesado à noite, em paz comigo mesmo.

 

Em tudo o que é estrutural neste país, não houve nenhuma reversão. Vieira da Silva diz que “mexer no Código de Trabalho não é prioritário”, como não poderia deixar de dizer, pois claro. Esta novela em torno do aumento do salário mínimo, então, é absolutamente dramática, pois desmascara as verdadeiras intenções do governo: fingir que dá ao povo, para o roubar pelas costas.

 

Nunca se viu um governo subsidiar os patrões deste país para que se aumente o salário mínimo. Nunca! É nojento. Derrotada a benesse da TSU no Parlamento, por intermédio de inesperados protagonistas, é certo, já se prepara uma diminuição do Pagamento Especial por Conta e comunistas e bloquistas aplaudem, desta feita, a medida!

 

Comunistas e bloquistas acham bem que uma porção considerável das empresas deste país subsistam ano após ano apresentando prejuízos e consideram que o PEC é injusto. É nestas coisas que apetece gritar aos ouvidos de PCP e Bloco, sobretudo aos do PCP por ser mais coerente e politicamente experiente, «Caiam na real! Este não é o mundo perfeito que imaginam e estas pessoas que aqui vivem não são as virgens impolutas que vocês imaginam que são!».

 

As leis têm também que ir ao encontro do mundo real e não apenas de uma qualquer abstração idílica. Devemos caminhar em direção à utopia, é certo, mas com os pés bem assentes na terra. Não devemos legislar por desconfiança, mas devemos encarar o mundo de frente, observar com sabedoria, e não fingir que não se vê.

 

Quanto menos estas empresas tiverem de pagar, menos pagarão, não porque não podem ou porque não é justo, mas porque faz parte da sua natureza e está ao seu alcance a evasão a essa responsabilidade. Não querer ver isso apoiando a diminuição ao PEC é uma estupidez e seguramente sairá muito caro ao país, não apenas em termos de receita fiscal, mas sobretudo a nível de equilíbrio social.

publicado às 20:15

Sobre a “feira de gado”

É interessante que as pessoas, sobretudo as que dão a voz por este entendimento parlamentar de suporte ao governo PS, se surpreendam com episódios como o de Augusto Santos Silva e a sua já célebre comparação da concertação social com uma feira de gado.

 

Augusto Santos Silva sempre foi um político rude, mal educado, prepotente, dono de uma arrogância visceral que advém não se percebe muito bem de onde, de que superioridade moral ou intelectual, pois não decorre nem da prática, nem da teoria, apenas escorre de uma verve que é tão somente puramente venenosa. A sua escola é a mesma de tantos, tantos outros, que hoje pululam, ora no PS, ora no PSD: é a escola da extrema-esquerda do pós vinte e cinco de abril, anticomunista de gema, trotskista, talvez, por vezes, sabe-se lá. Talvez pudesse ser, em boa verdade, o que quer que parecesse mais conveniente na ocasião e que concorresse para a sua escalada política. E como Augusto Santos Silva soube escalar bem!

 

Isto de se ter uma boa memória é um problema sério. É que não permite apagar com uma borracha o percurso das pessoas, o que se disse e o que se fez, só porque agora parece que convém porque há uma coligação à esquerda no parlamento e cuja redoma de vidro é imperioso proteger.

 

Lembro-me bem do percurso de Augusto Santos Silva, do que defendia e do que apoiava enquanto militante da esquerda radical nos anos setenta e oitenta, como também me lembro bem da sua transição para o PS e dos insultos que cuspia para a sua esquerda no parlamento, do alto dos seus múltiplos cargos. Destaco particularmente as suas vergonhosas intervenções, verdadeiramente inenarráveis, enquanto Ministro dos Assuntos Parlamentares de José Sócrates. Mas o povo já não se lembra. Eu lembro-me bem. E quando me apercebi que este executivo de Costa iria ter nomes como o de Augusto Santos Silva, entre outros, compreendi na perfeição o engodo das promessas deste governo.

 

Mas não dispersemos do essencial. Em Augusto Santos Silva não há novidade absolutamente nenhuma. Pelo contrário, há coerência na insolência e na descortesia. A única novidade é a cândida complacência com que é tratado por parte de certos setores. Questiono-me até quando irá a esquerda parlamentar continuar a proteger este governo, até quando manterá a sua hipócrita amnésia sobre a verdade histórica deste e de outros personagens. Questiono-me se estas migalhas sociais conquistadas, absolutamente insubstanciais, iníquas, efemeramente inconsistentes, valerão a pena quando vislumbradas daqui por dez, vinte anos. Espero sinceramente que valham.

publicado às 17:07

Ainda sobre os colégios privados

  1. Escrevo este post ainda sobre esta temática asquerosa porque a asquerosa temática persiste em inundar a ordem do dia, não obstante não possuir um pingo de sustentabilidade lógica ou de legitimidade.

 

  1. Noto, com sentimento de profunda repulsa, o facto que concorre para o anterior de que diversos pivots/jornalistas da televisão pública e privada se associarem de modo mais ou menos não declarado a tão absurda contenda usando blusas ou gravatas de cor amarela.

 

  1. O movimento dos colégios privados acha bem fazer uso de jovens e crianças nas suas manifestações.

 

  1. Alguns encarregados de educação já denunciaram que os seus filhos são obrigados a participar das encenações e que perdem aulas por causa da fantochada.

 

  1. Com o ponto (3.) e com o ponto (4.) ninguém parece verdadeiramente importar-se.

 

  1. Ao contrário do que se diz, é importante sublinhar que as condições materiais e estruturais dos colégios privados são, em regra, muitíssimo piores do que nos estabelecimentos públicos.

 

  1. Muita gente mostra-se preocupada com o futuro de professores e funcionários dos colégios privados.

 

  1. Coincidentemente, nunca se preocuparam com a legião de professores que foram afastados do ensino público no início desta crise.

 

  1. Uma nota: foram muitos, muitos mais, do que estes de que agora se fala.

 

  1. Também ninguém se preocupa com as condições laborais dos trabalhadores dos colégios privados.

 

  1. Na maior parte dos casos, os vencimentos são inferiores e os vínculos precários.

 

  1. Os colégios privados preparam agora uma enorme manifestação em frente ao parlamento.

 

  1. Diz-se que já estão a fretar camionetas.

 

  1. Parece que o ato de fretar camionetas, na cabeça de muita gente, só é indecente nas manifestações dos sindicatos.

 

  1. Esperemos para ver a atuação da polícia de intervenção nesta manifestação, sempre tão lesta para aplicar bastonadas em manifestações pacíficas e ordeiras de trabalhadores a lutarem pelos seus direitos.

 

  1. Esperemos — acima de tudo! — que o primeiro-ministro não vacile face ao lobby, face ao irracional, face ao disparate.

 

  1. Não ponho as mãos no fogo pelo número anterior (16.).
publicado às 09:11

Os tempos difíceis do governo

Já era expectável um cenário semelhante àquele que experimentamos para os anos que durar este executivo governativo. Os dados já tinham sido lançados ainda antes, muito antes, do processo de formação do governo, processo esse que, se outra coisa não lograr, serviu pelo menos para o extremar de posições à direita.

 

As forças de direita traduzem-se na atualidade por forças de um bloqueio que extravasa em muito a sua condição de oposicionistas. Com efeito, não há que temer pronunciar a verdade, as forças de direita assumem um caráter extremista radical, manifestando a sua incapacidade de aceitação do desenrolar democrático através de atentados bombistas mediáticos que vão ocorrendo a um ritmo diário, sem precedentes, numa ação concertada com os poderes económicos e os seus instrumentos propagandistas, os jornais, as rádios e as televisões.

 

O precedente aberto com este modus operandi da direita revela o seu desespero pela perda do poder mas, mais do que isso, demonstra uma fúria descontrolada por parte da burguesia portuguesa pela ideia de ter perdido os seus mais fervorosos servos apóstolos dos locais de decisão. Se refletirmos por um momento, é difícil encontrar sólidas justificações para esta ação. De facto, a alternância PS-PSD foi sempre, historicamente, o inabalável eixo de salvaguarda e de amparo a cada um dos mais íntimos desejos dos capitalistas deste país e este governo, até ver, não tem beliscado excecionalmente os seus interesses. O que será então?

 

O que será que justifica a sucessão de notícias que têm aparecido? Esta semana acordámos numa gritaria histérica em redor do caso Diogo Lacerda Machado. O país acordou em peso para a inaceitável realidade de haver um intermediário não oficial do Estado a negociar em seu nome e de este também ter os seus próprios interesses profissionais e particulares. Lamentavelmente, os meios de comunicação como um todo foram atingidos de amnésia aguda. Esqueceram-se, por exemplo, de casos como o do falecido António Borges que, no tempo do anterior executivo, era tido como o Ministro Sombra. Esqueceram-se e, subitamente, o caso Diogo Lacerda Machado assumiu contornos de escandaloso. Creio que “escandaloso” seria melhor aplicado a esta falta de vergonha que assola a ação da direita portuguesa e que se sobrepõe, como sempre, a qualquer tipo de ética jornalística. Aliás, parece já não existirem jornalistas a habitar os jornais: parece que apenas existe e se multiplica essa massa informe de vida a que se dá o nome de opinantes.

 

Frequentemente, dou comigo a pensar que quem mais critica atualmente o governo é quem menos legitimidade tem para o fazer e o inverso também é verdadeiro. As pessoas que criticam ferozmente o governo por este não lhes conceder aquilo que esperavam são, por ventura, as mesmas que votaram à direita, nas políticas de austeridade e de carestia. Seria bom que também aqui houvesse um pouco menos de hipocrisia.

 

Este desespero da direita não é exclusivo de Portugal, longe disso. Vemo-lo claramente noutros países da Europa, na América Latina, em África. Tenho amigos que acreditam que é fruto de um outro desespero mais profundo, um desespero do sistema. O capitalismo encontra-se numa situação aflitiva, embora invisível ao olhar comum. Os seus mercados de outrora estão a fechar-lhe as portas. A China, sobretudo, e a Índia ocupam muito daquele que era o seu sacrossanto espaço de exploração de recursos humanos e materiais. O mesmo se começa a experimentar na América Latina e em África, embora noutros moldes e a outras velocidades. E é neste contexto que se pode perceber melhor esta deriva antidemocrática e autoritária, de pensamento único, que assola os partidos do regime um pouco por todo o mundo. É uma questão de sobrevivência. É a sobrevivência do capitalismo que está em causa.

 

É claro que, retornando ao caso português, nem governo, nem maioria parlamentar, concorrem para uma perspetiva de legislatura serena. O governo multiplica-se em questiúnculas patéticas, de natureza distintamente paralela ou superficial que, não obstante a sua insignificância, consegue magnificar assinalavelmente através da sua inabilidade e uma certa obstinação pelo politicamente correto. São exemplos o caso do Ministro da Cultura, do novo e do velho, do secretário de Estado da Juventude e Desporto e do Colégio Militar. Por seu turno, a maioria parlamentar de sustentação governativa, concretamente o Bloco de Esquerda, parece querer navegar a onda das primeiras páginas de que falava nos primeiros parágrafos e, desse modo, fazer o papel da direita confrontando o governo com pseudoproblemas e erguendo disputas que, objetivamente, não são as suas. Assim foi o caso da agressiva exigência da demissão do Governador do Banco de Portugal. A deriva febril por mediatismo do Bloco não possui um vislumbre de término e não cessa em surpreender-me. Apenas justifico tal ação, de mim para mim, como uma estratégia precipitada de distração das massas daquela picaresca proposta do Cartão de Cidadania.

 

Em todo o caso, o governo vive tempos muito difíceis que não parecem dever o que quer que seja ao circunstancial. Existe ainda o Presidente Marcelo que poderá ter uma palavra a dizer. A minha dúvida, por ora, é saber se essa palavra que o Presidente eventualmente dirá não será imposta pela força das circunstâncias com que este governo se rodeia, sobrepondo-se à declarada e descrita estratégia da direita. Para já, nestes preliminares tempos de presidência, a ação do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa suscita-me apenas palavras de aprovação que pronuncio sob um composto de surpresa, de reconhecimento e uma ponta de desconfiança. Poderá até ser que sejam as “qualidades” do seu antecessor que o valorizem, mas Marcelo Rebelo de Sousa apresenta atributos, a oratória, o bom-senso, a sua capacidade diligente, e também uma certa transparência no trato e na comunicação, que acrescentam e elevam o cargo, como aliás o cargo, desesperadamente, precisava.

publicado às 11:42

Debruçando o olhar sobre a situação espanhola

Entretenho-me a debruçar o olhar sobre a cena política espanhola. É mesmo isso: não lhe dispenso uma atenção desmesurada, nem tenho os números de cabeça. Diverte-me, simplesmente, o imbróglio, o que se diz sobre o imbróglio e o que o povo, o espanhol e o português, pensa sobre o assunto.

 

Os comentadores dizem que o caso espanhol é muito diferente do caso português e talvez tenham razão. Depende sempre do ponto de vista. Na minha perspetiva, há mais do que os une do que o que os separa, sendo que o que os separa reduz-se aos resultados eleitorais. Com efeito, é na correlação de forças do Parlamento que resultou das eleições onde reside a única, mas substancial, diferença.

 

De resto, é tudo semelhante: o PP espanhol é tão conservador e retrógrado quanto o PSD-CDS português; o Mariano Rajoy é um ser tão ignorante e sinistro quanto o Passos Coelho; o PSOE é tão simultaneamente liberal, capitalista e demagogo quanto o PS português; o Podemos e o Bloco de Esquerda são gémeos paridos do mesmíssimo lugar, uma espécie de refundação da social democracia, anticomunista, mas inspirada na verve e na propaganda da extrema-esquerda, a que eu chamo ironicamente de “nova esquerda”, e os seus líderes são paladinos empáticos e bem-falantes; existe a Esquerda Unida em Espanha, irmã da CDU de Portugal; e pelo meio, há um novo partido conservador chamado de “Cidadãos” que é, de facto, como aquelas abjeções popularuchas, que nós também temos por aqui aos magotes, cujas bandeiras são a luta contra a corrupção, a refundação do sistema e o reavivar dos bons costumes com laivos de modernidade. Talvez os representantes do Ciudadanos se vistam melhor e sejam menos brejeiros do que por aqui. Ou talvez nem isso os diferencie.

 

A diferença, como dizia no início, reside na sentença decretada pelos verdadeiros juízes da democracia: os votos das populações. Enquanto que em Portugal, o PS pôde formar maioria parlamentar com duas forças à sua esquerda, tal não é possível em Espanha. O Ciudadanos obteve suficiente força eleitoral para se tornar peça-chave em qualquer solução governativa sem o PP e, então, disso resultou uma equação governativa envolvendo variáveis inversas não conciliáveis.

 

Tal como em Portugal com o Bloco, o Podemos cavalga sobre a onda do seu resultado eleitoral e joga o jogo político como um louco, sem bom senso e sem equilíbrio. A sua estratégia é o tudo ou nada. A diferença aqui reside no peso diferenciado entre os movimentos comunistas. Em Portugal, a CDU obteve suficiente peso para poder influenciar as decisões e equilibrar a estratégia kamikaze do Bloco. Em Espanha o mesmo não se verificou com a Esquerda Unida, pelo que o Podemos prossegue à vontade o seu extasiado foguetório sem qualquer tipo de contraponto.

 

Bastaria que em Portugal se trocasse a votação da CDU pela votação do partido de Marinho Pinto, por exemplo, para estarmos a viver a mesmíssima situação de ingovernabilidade que Espanha experiencia de momento.

 

É por isso que, enquanto outros procuram diferenças, eu encontro semelhanças. O povo português e o povo espanhol são muito parecidos, no seu conservadorismo essencial, nas suas ortodoxia e devoção religiosas, na forma como compreendem o mundo. As diferenças que vão ocorrendo são meros acasos, meros requintes da aleatoriedade.

 

É verdade que em Espanha há uma monarquia e um rei e em Portugal há uma república e um presidente, mas mesmo isso é uma questão meramente formal, é uma questão de estilo e de apresentação do regime. A maioria dos portugueses olha para a sua república como uma monarquia. A maioria dos portugueses entende o seu presidente, o seu primeiro-ministro e demais governantes, como se de tipos de sangue azul se tratassem. E ficam sempre muito admirados quando constatam que, afinal, assim não é.

publicado às 10:54

As “pequenas” coisas e a base dos entendimentos

Num destes dias de dois mil e dezasseis é possível que o PS se veja sozinho, isolado, débil. Então, assistiremos a um golpe de misericórdia que se materializará na decapitação deste executivo governamental. Esse golpe virá pelas costas e será dirimido pelas mãos juntas dos partidos da grotesca PaF, por ora defunta fingida. Nesse momento, a sociedade em peso apontará os seus dedos hipócritas aos partidos da esquerda, acusando-os de tudo e de mais qualquer coisa e responsabilizando-os, com a sua voz de escárnio costumeira, pela queda do governo.

 

O cenário hipotético mas plausível deve ser desmontado desde já. Deve-se dizer o que está mal, o que se está a plantar, como se está a fazer a cama onde nos deitaremos. Há coisas que se fazem e que ninguém presta atenção, mas que se colocam na base dos entendimentos como argamassa que une ou desune boas vontades e esforços.

 

Neste particular, sublinho uma situação pertinente ocorrida no final deste ano civil. Perante uma ameaça de greve pelos trabalhadores da Petrogal, este governo, tal como o anterior o havia feito, emitiu um despacho “fora-da-lei” que deliberava serviços mínimos (leia-se: máximos) afrontando a Constituição no que o direito à greve diz respeito e desmobizando a ação de luta dos trabalhadores da empresa. Podia não o ter feito. Mas fê-lo. Decidiu sair célere em defesa do patronato, buscando, deste modo, o seu patrocínio. Não pesou mais os interesses dos trabalhadores: pesou mais os interesses do patronato. Não quis o patrocínio dos trabalhadores: quis o patrocínio do patronato. É uma opção legítima, descontando o “pormenor” Constituição.

 

São estas “pequenas” atitudes que minam um relacionamento. É este tipo de postura perante a vida real, perante os problemas concretos, que influem em decisões mais amplas e mais substantivas e que estão na base dos acordos parlamentares. Quando o PS cair não será por acaso. Quando o PS se vir sozinho, isolado e débil muitos não o compreenderão. Muitos não serão capazes de entender por que razão a esquerda não lhe estende uma mão. Não será pelas “grandes” coisas. Não será pelas estrelas do céu ou por aquela outra que pontifica, brilhante, no topo do pinheiro de Natal. Será antes pelas “pequenas” coisas, pelo que se encontra na base e que sustenta, todos os dias, o tronco desse pinheiro.

publicado às 12:12

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