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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

A quem é que o estado serve?

A inflação tem, seguramente, diversos efeitos nefastos numa economia, efeitos que conduzem à disrupção de padrões de consumo e de circulação do capital, tornando a economia mais receosa e conservadora e acelerando a sua perigosa tendência natural em capitalismo: a acumulação de riqueza.

Para o estado português, todavia, a inflação traz consigo um potencial inesperado, que o mesmo espreme até que as massas se comecem a contorcer e a retorcer de insuportáveis dores. O país com uma das mais elevadas cargas fiscais da Europa aguenta até ao último segundo para baixar umas décimas de impostos, aproveitando, nos “entretantos”, todo esse imoral excesso de tributação. Depois, o estado ainda se vangloria, na cara do povo proletário, como se lhe estivesse a fazer um grande favor! Prática consolidada, em décadas, com os combustíveis, estende-se agora à generalidade dos produtos, em média, 8% mais caros. Se queremos estabilidade, temo-la no IVA que “resiste”, sólido, determinado, nos 23%.

O povo devia saber onde está a ser aplicado este excesso brutal e, reforço, imoral de tributação. Se assim fosse, algumas coisas tornar-se-iam mais claras. Por exemplo, para que é que o estado serve e a quem é que o estado serve. Não tenhamos ilusões, todavia. Com a segurança social passa-se a mesmíssima coisa. Dada a mortalidade extraordinária que, infelizmente, tem afetado sobretudo reformados e pensionistas, uma pergunta fundamental emerge: a segurança social está rica? E, se não está, para onde está a ir o dinheiro? É que nem a idade da reforma baixa de forma significativa! Voltamos ao princípio: se isto nos fosse explicado, perceberíamos claramente para que é que o estado serve e a quem é que o estado serve. E, então, as coisas poderiam diferentes.

publicado às 11:18

É hora de começar a rezar

Realmente... a Finlândia e a Suécia agora querem aderir à NATO... acho muito bem... e todos nós, como povo, e o nosso adorado presidente, o que nunca se nega a uma selfie, também... todos achamos muito bem...

A Rússia bem pode ter começado esta guerra, mas o ocidente anda empenhado em dar-lhe razão e está a fazer de tudo para que ela, a guerra, não termine. E, pior, muito pior, para que a guerra evolua para o estádio seguinte...

Para quem crê, é hora de começar a rezar... para que os poderes supremos possam pôr algum senso na demência que vai por aqui em baixo. Isto não vai acabar bem.

publicado às 14:23

Costa a fazer currículo

Ai o Costa vai a Kiev assinar um protocolo qualquer não sei das quantas? Ai é? Faz muito bem, sim senhor. Tem que continuar a preparar a sua vidinha futura, fazer currículo para se poder candidatar a algum cargo importante nesta união europeia decadente, ainda antes do seu mandato de primeiro-ministro acabar. Preocupação com o nosso povo, zero. O que nos vale é não contarmos para nenhuma espécie de campeonato na geopolítica internacional.

É o que nos vale. Ainda assim, devíamos ter mais cuidado. Mandamos muitas bocas, mas não somos exatamente como o papagaio... não temos asas! É sempre engraçado armarmo-nos em valentes às custas dos outros. Costa manda bocas e o povo é que vai pagar por isso. Já estamos a pagar por isso. E a fatura tem tendência a aumentar.

Uma ideia, assim, de repente: e promover a paz? E opôr-se ao alimentar belicista deste conflito?

publicado às 10:55

Viva o livre mercado!

Era exatamente agora, no momento em que as gasolineiras se recusam a baixar o preço do combustível de acordo com a correspondente baixa dos impostos (nem de perto, nem de longe!), na mesma altura em que as mesmas batem todos os recordes de lucros monopolistas e obscenos, era precisamente agora, como dizia, que seria de confrontar a Iniciativa Liberal, em particular, e todos os defensores do livre mercado, em geral, com a ideia peregrina de que “liberalismo funciona e é preciso” que tanto gostam de propalar.

Pena é que durante as campanhas eleitorais nada disto seja noticiado, falado ou debatido e esses “génios”, os quais, lamentavelmente, contaminam as universidades deste país, dispõem de todo o tempo de antena para despejar a sua boçalidade de economia ultrapassada do século XIX sem qualquer tipo de contraditório. Por ora, como é evidente, estão todos caladinhos. Convém. Até os cartazes foram oportunamente retirados! Viva o livre mercado!

publicado às 18:50

O "ditador" e o "democrata"

O “ditador” recebe o secretário-geral das Nações Unidas com a porta aberta, em direto e ao vivo para todos os que querem ouvir, com tradução simultânea. O “democrata” recebe o secretário-geral das Nações Unidas à porta fechada, os jornalistas obrigados a entregar os seus telemóveis, com direito a três perguntas e declarações efetuadas em diferido, não vá alguma coisa escapar-se do plano previamente delineado. O que o “ditador” diz é “retórica”, concluem os jornais. O que o “democrata” diz são verdades evidentes, como é óbvio.

No ocidente da democracia, que não está formalmente em guerra com a Rússia, são censurados todos os canais de informação que não alinhem com a narrativa ocidental. Redes sociais, YouTube, Google, ninguém falta à chamada. De que têm tanto medo? Orquestras deixam de tocar os eternos concertos de Tchaikovsky, universidades censuram as obras imortais de Dostoievski. Putin é o mal encarnado, Zelenskyy um herói, um anjo. Tudo o que a Rússia faz é errado. A moralidade está do lado de cá, o lado certo, claro. A pluralidade nas democracia ocidentais é algo que não devemos deixar de sublinhar.

Já não temos memória das guerras iniciadas pelo Tio Sam. Todas foram plenamente justificadas, mesmo que com pretextos como armas de destruição maciça ou genocídios imaginários. Em nenhuma houve vítimas, nem mulheres, nem crianças, nem grávidas. Em nenhuma houve rockets, armas de urânio empobrecido ou armas químicas ou nucleares. Também não houve Nações Unidas, nem secretário-geral, para reunir com os presidentes ocidentais de então. Temos, por isso, todas as razões, e mais alguma, para confiarmos cegamente na narrativa que, por ora, nos apresentam. Claro que sim. Estejam, porém, atentos: é que a narrativa pode mudar a qualquer instante.

Faço votos para que a guerra acabe depressa, mas tenho um profundo desprezo por este mundo de dois pesos e duas medidas, este rebanho de conceitos frágeis, de pensamento único, de cata-ventos morais dirigidos pelo seu interesse e egoísmo, marionetas nas mãos de poderes superiores. Um mundo onde os seres pensantes são espécie cada vez mais rara, mais pobre, mais rouca.

publicado às 21:46

A ética segue critérios estéticos

Atribui-se a Friedrich Nietzsche o pensamento:

Se matarmos uma barata somos vistos como heróis. Todavia, se matarmos uma borboleta somos considerados maus. A ética segue critérios estéticos.

Sem dúvida que a ética segue critérios estéticos. Não serão apenas, nem meramente, estéticos, contudo, tais critérios da ética. A racionalidade humana vê-se constantemente ultrapassada, dominada, subordinada ao subconsciente, ao sugestivo, ao imaginário, ao subliminar. Como se a incoerência fosse endémica ao mundo dos homens... ou, pelo menos, da maioria deles.

publicado às 13:16

We will always have Kosovo?

Ai, que pena é já não nos lembrarmos do Kosovo... de como foi dada a independência em 2008 a essa pequena região sérvia sem nenhuma justificação que não fosse a de haver uma grande população de origem albanesa, de como o “direito internacional” de nada valeu então e dos bombardeamentos da NATO que destruíram gratuitamente boa parte da belíssima Belgrado...

Que pena a nossa falta de memória! É que daria tanto jeito para vermos a situação da Ucrânia de um outro modo!

Já não peço conhecimentos em história e geografia europeias: peço, simplesmente, memória! E não tão longínqua assim... Não peço para relembrar a crise dos misseis de Cuba e do estado de loucura que provocou na América dos anos 60. Claro, isso foi nos anos 60, quase ninguém era nascido nessa altura... Hoje é lícito os americanos colocarem misseis em tudo o que é país fronteiriço da Rússia. É muito diferente, claro.

É que tudo o que os americanos não gostam que lhes façam a eles, fazem aos outros e tudo aquilo que os americanos fazem aos outros não admitem que os outros façam. Complicado? Não, é muito simples. Com a atenuante de que o que está em causa, como sempre esteve, é a segurança da população russa naqueles territórios ucranianos a qual, desde o golpe de estado de 2014 que instaurou um regime com “simpatias” neo-nazis naquele país, tem estado seriamente comprometida.

Mas todos nós convivemos bem com um regime que “adora” suásticas, militarizar as populações e submetê-las segundo a regra da violência de milícias armadas. Claro que convivemos bem: a Europa patrocinou esse golpe de estado na Ucrânia, como poderia ser de outro modo? Se não aceitamos o direito que a Rússia tem em zelar pelos seus legítimos interesses, aceitemos, pelo menos, o direito que a Rússia tem em proteger os seus cidadãos. É só isso. O resto é propaganda descarada de uma grande potência que já só o é para as televisões e para os jornais amestrados (neste particular, note-se a grande adição que foi a CNN Portugal ao panorama de papagaios do imperialismo que já tínhamos aqui no bairro). Aos Estados Unidos da América, de facto, já não lhes resta mais do que isto: propaganda. Daí toda esta histeria dos capangas da NATO: como não podem fazer nada, berram e chamam nomes, como as crianças no recreio da escola.

publicado às 11:16

A culpa é da seca?

Será da seca a culpa da falta de água?

Será da seca a culpa da falta de água nas barragens?

Será que as barragens não andavam a carburar a dobrar por força dos encerramentos extemporâneos das centrais elétricas a carvão?

E os 30% de eletricidade que importamos, também se devem à seca?

E os custos da eletricidade, sempre a subirem?

E a gasolina a 2 euros o litro?

Pobre seca... ilustres governantes... pobre país cada vez mais dependente energeticamente, integralmente submetido a soberanos estrangeiros...

Pobre seca que carrega as culpas da falta de água...

publicado às 19:06

O rescaldo possível

Para mim é sempre difícil, penoso, fazer o rescaldo das eleições em Portugal, sejam elas quais forem. Para um revolucionário que vê neste sistema capitalista as correntes que não nos deixam ser livres, viver em plenitude, perseguir os nossos sonhos de um modo sustentável e racional, todas as vitórias são meramente simbólicas, todos os ganhos são escassos e todas as derrotas demasiado dramáticas porque se constituem como oportunidades perdidas, adiamentos do progresso que a humanidade reclama, mesmo que disso não tenha qualquer consciência.

As passadas eleições não trouxeram nada de novo, muito embora a comunicação social se tenha excitado muito com a maioria absoluta do PS e o grande crescimento da extrema-direita neoliberal e fascista. Não considero estes factos verdadeiramente surpreendentes, de facto. Quando pensamos bem na coisa e no modo como foi preparada, vemos que não há muito de surpreendente nisso: o discurso fortemente bipolarizador, a ameaça da extrema-direita, as sondagens com empates técnicos fictícios e, claro, uma esquerda sem um discurso próprio, sem um discurso afirmativo, sem a capacidade ou a vocação para desmascarar as intenções e as práticas políticas do PS — em boa verdade, depois de seis anos de colagem total à governação socialista, como poderia tê-lo feito? Adicione-se uma liderança verdadeiramente incapaz da parte do PSD, um António Costa a acenar com aumentos e distribuições de verbas da forma mais inadmissivelmente anti-ética, e fez-se a calda perfeita para o resultado eleitoral verificado.

Do lado da direita, também não considero os resultados particularmente brilhantes, ao contrário do que a comunicação social reacionária tem procurado veicular. Juntos, Iniciativa Liberal e Chega obtiveram qualquer coisa como 13% de votos, 8% para o Chega e 5% para a IL. Claro que houve um crescimento, mas em si mesmos, são resultados bastante medíocres: 8% para a terceira força política é dos resultados mais fracos de sempre e considerando o quase desaparecimento do CDS estes resultados são ainda mais irrelevantes. Note-se que, há uns anos, Paulo Portas chegou a obter um resultado equivalente a estes 13% sozinho com o CDS. O que se passou foi, com efeito, uma transfiguração da direita, uma mudança de rostos e de plataformas políticas. É manifestamente injustificado, ainda, falar-se num crescimento da direita: a única coisa que aconteceu foi uma substituição de direitas e transferências praticamente diretas de votos.

O que resultou de mais grave nestas eleições é a perceção clara de um enfraquecimento substancial da esquerda que perde votos para o PS e, até, para o Chega. PCP e Bloco estão reduzidos a meros 10% de votos. É grave a transferência de votos operada, porque significa, mais que uma erosão eleitoral, uma erosão ideológica. Há algo de realmente errado quando uma pessoa que vota Partido Comunista passa a votar PS ou — imagine-se! — Chega. Devia ser sobre isto que estes partidos, PCP e Bloco, deviam ponderar com seriedade. Que eleitorado pretendem? Que eleitorado estiveram a construir com os seus discrusos e as suas práticas? Foi isto que conseguiram com seis anos de geringonça.

O que resulta surpreendente nestas eleições, e também nas demais, é que o povo não nos surpreende. As grandes massas, por muito que deem aso, diariamente, à mais contundente crítica relativamente ao sistema político e seus serviçais, demonstram à saciedade a sua aversão completa por qualquer vislumbre de mudança, um comodismo implacável pela situação presente, uma genuína falta de ambição por um futuro melhor, mais próspero, mais honesto e mais justo. A distribuição dos votos é, essencialmente, sempre a mesma. As escolhas são sempre, essencialmente, as mesmas. Como que se isto fosse o melhor que estamos autorizados a ambicionar. Como se isto fosse a meta que queríamos atingir, o paraíso na Terra tal como nos foi prometido. No final das contas, contados e recontados todos os votos, é essa sensação de resignação que fica e que me deixa sempre muito desanimado.

publicado às 16:03

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