A era da irresponsabilidade
Reconheço plenamente a importância do voto secreto na democracia. Reconheço-o mas, por vezes, pondero...
Por vezes, imagino que cada pessoa devia dizer abertamente em quem vota. Mais: devia ser marcada na testa respetiva a sigla do partido em quem votou, sigla essa que duraria pelo período governativo em questão. Claro que depois caio na real e esqueço tamanho disparate. Perder-se-ia muita liberdade a troco de muito pouco.
Acho que estas coisas assaltam-me o pensamento porque a nossa era é a da irresponsabilidade. Ninguém se julga responsável por nada e é célere a exibir um indicador em riste para apontar a culpa alheia. Muitas vezes apetece dizer:
“Olha-te ao espelho! Estás sempre a chorar mas olha para a tua testa, olha a sigla que está lá marcada. Foste tu que os meteste lá, porque votaste neles a quem apontas o dedo ou porque nem sequer foste votar. Assume a tua responsabilidade.”
Mas ninguém assume a sua responsabilidade. A culpa é sempre da corrupção e das mentiras que disseram na campanha eleitoral e sobre si próprios paira sempre uma aura de inocência e de impotência perante a coisa.
Não obstante, depois de quatro de outubro a história, tudo aponta, repetir-se-á. Não obstante, continuo à espera de uma surpresa.