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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

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Baixa política

Em política o mais baixo acontece não quando se assume uma posição distinta da nossa mas quando não se assume posição alguma. O não assumir de posição não resulta de incapacidade ou de ignorância mas de taticismo político, numa tentativa humanamente medíocre de conquistar o apoio de todos.

 

Quando perguntaram a Maria de Belém o que achava ela da redução do horário de trabalho na função pública para trinta e cinco horas, a candidata respondeu que ninguém, muito menos o Presidente da República (!), se deve imiscuir nas decisões parlamentares. Para ela, ao que parece, é indiferente que sejam trinta e cinco ou quarenta ou cinquenta as horas de trabalho semanais. Tanto faz!

 

Isto é um bom exemplo da mais baixa política. O que está na moda é isto: não dizer nada sobre nada, não assumir posição, não concretizar o que quer que seja, ser-se um falso espelho de virtudes, cobrir-se de uma manta de chavões e de lugares comum. Também Marcelo e os outros, os “independentes” e os “da cidadania”, fazem o mesmo com maior ou menor distinção.

 

Outra questão, diversa da anterior, é tentar perceber por que razão a baixa política é valorizada pela esmagadora maioria dos votantes, sendo que o edifício democrático que sustenta a sociedade derrama lágrimas de sangue a cada escrutínio.

http://clas.berkeley.edu/sites/default/files/shared/images/eventimages/2015-10-21-Vote%20Buying-%20Matador-4x3-750p.jpg

 

publicado às 21:00

Edgar

Ao navegar pela internet nestes dias, descobri um vídeo sobre Edgar Silva e fiquei espantado na medida em que nesse vídeo o candidato à presidência nunca era denominado como “o candidato comunista” ou como “o candidato do PCP”, tal como aparece sempre plasmado em todos e em cada um dos meios de comunicação social deste país. Então, dei uma oportunidade e continuei a ouvir. Achei interessante: acho que passei a conhecer Edgar Silva melhor; passei a saber coisas de que não fazia ideia. Não é apenas o “candidato do PCP”: parece ser uma excelente pessoa.

 

Como, com exceção de Edgar Silva, todos os candidatos, até mesmo os bobos do presente exercício eleitoral, têm reportagens semelhantes na TV, entrevistas em jornais ou mesmo em revistas cor-de-rosa (!), vale a pena aqui partilhar o vídeo, com a esperança de que contribua para a destruição de alguns fantasmas ou bichos papão que habitam os sótãos e os armários de muita gente.

 

publicado às 20:22

Presidenciais 2016: uma analepse

Em março do ano passado, quando se começavam a agitar as águas destas eleições presidenciais que estão agora a chegar, escrevi, a propósito de declarações do atual Presidente, sobre o que para mim seria um bom perfil para o próximo Presidente da República Portuguesa. Resgato aqui esse texto porque nele me revejo e também para trazer para o debate a lente particular com a qual avalio e analiso objetivamente cada um dos candidatos.

 

Note-se como o terceiro ponto voltou a ser violentamente pontapeado no último discurso do Presidente, com o seu recorrente “cidadões”, terminologia que ficará para a história, e muito justamente, como a sua imagem de marca.

 

No mais, reforço a importância do primeiro ponto. É que a Constituição da República não é, contrariamente ao que querem fazer crer, como um “texto sagrado” que cada um interpreta como quer, ora à letra ora figurativamente. A Constituição é muito clara e seria até extraordinariamente pertinente que fosse ensinada aos jovens no seu percurso escolar para que estes pudessem aprender em que sociedade é suposto que vivam e, assim, melhor avaliar o que os rodeia.

publicado às 23:29

Presidenciais 2016: o momento circense

Algures no frente-a-frente entre Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa saiu a pérola que se segue.

 

Sampaio da Nóvoa: “O que é impressionante é que sobre todas as matérias temos vinte citações [de Marcelo Rebelo de Sousa] a dizer uma coisa, e vinte citações a dizer o contrário”.

 

Marcelo: “Mas disse! Mas disse! E você, o que disse???”

 

Esta brilhante contra-argumentação devia fazer com que Marcelo perdesse os votos de todos os portugueses com um mínimo de decência intelectual.

publicado às 21:28

Presidenciais 2016: a grande interrogação

A grande interrogação que se desenha na antecâmara das eleições presidenciais de 2016 é a de saber quem será o sucessor de Manuel Alegre e de Fernando Nobre, isto é, quem será o eleito pelos portugueses para recolher os votos de protesto pueril e absolutamente inconsequente que tem vindo a ganhar raízes desde há dez anos a esta parte.

 

Quem será o candidato da “sociedade civil”? Quem será o candidato dos “cidadãos”? Quem será o candidato “contra a partidocracia” e as “clientelas partidárias”?

 

Enquanto que nos anteriores escrutínios esta dúvida não se colocava, desta feita parecem existir suficientes concorrentes ao famigerado lugar para justificar tal interrogação. Também resta saber quantos votos serão “depositados” nessas candidaturas.

publicado às 14:18

Afinal... Marisa Matias também mente

No debate com Edgar Silva, Marisa Matias foi confrontada com o facto de ter votado a favor da resolução do Parlamento Europeu que abriu caminho à intervenção militar na Líbia. Marisa negou veementemente tal acusação e aconselhou Edgar a “ir ler as atas”. O azar de Matias é que Edgar, que já foi padre católico, está habituado a ler “textos” muito mais intrincados e repletos de parábolas, metáforas e outras figuras de estilo.

 

Pois bem: de seguida apresentam-se as hiperligações quer para a resolução em causa, http://goo.gl/xjzvEj, quer para a ata de votação, http://goo.gl/yCT88o.

 

A votação do documento final aparece na página 6, sendo que o nome “Matias” surge na secção “+”, isto é, na secção dos que votaram a favor. Talvez não seja Matias de Marisa... Talvez seja outra pessoa...

publicado às 18:30

Presidenciais 2016: o que está em causa

O cargo de Presidente da República Portuguesa pode ser observado através de, pelo menos, dois prismas diferentes.

 

No plano estritamente teórico o órgão da presidência é generoso em virtudes políticas e institucionais e foi concebido precisamente para tal. Com efeito, o Presidente da República, sendo um órgão não legislativo e não executivo, apresenta-se como um contraponto de poder relativamente quer ao Governo, quer à Assembleia. O chefe supremo das forças armadas detém o relevantíssimo poder de supervisão dos protagonistas políticos anteriores com base na letra da Constituição da República Portuguesa, podendo vetar ações legislativas e dissolver a Assembleia. Este potencial de contrapoder depositado sobre o cargo da presidência, e enfatizado pelo seu caráter a priori apartidário, confere ao nosso sistema republicano a possibilidade de evitar abusos de governação ou de autoritarismo. Neste sentido, o Presidente da República deve ser encarado precisamente como um último protetor da Lei da República.

 

Muitos países, mundo fora, não dispõem de uma figura com as especificidades do Presidente da República e, em vez de um sistema bicéfalo como o nosso, Governo/Primeiro ministro e Presidente, optam por unir os dois órgãos num só.

 

Do ponto de vista prático muita coisa poderá ser dita sobre o órgão de Presidente da República e, na maioria dos casos, de conteúdo pouco abonatório para o cargo. É difícil não cair nesse erro sobretudo quando, eleição após eleição, o inclino do Palácio de Belém comporta-se como um mero facilitador de estratégias partidárias de assalto ao poder ou como um turista de luxo sustentado pela pobreza da nobre praia lusitana. É muito difícil não criticar o órgão da presidência quando o Presidente se comporta amiúde como um extravagante Rei e quando a presidência se revela mais dispendiosa do que certas casas reais europeias.

 

Todavia, o bom senso exige que se separe a qualidade do instrumento do uso que dele é feito. O que está em causa nas eleições presidenciais de 2016 é o que está sempre inexoravelmente em causa: a escolha de uma personalidade com valor, com um passado que fale por si, acima de toda e qualquer estratégia que não seja o escrupuloso e estrito cumprimento da Constituição no contexto da defesa do seu povo. Em suma, a escolha não deve recair nem num cúmplice governativo, vulgo jarra de enfeitar, nem tão pouco num agitador com uma agenda própria em carteira. E é importante sublinhar a dramática relevância de se poder usufruir, em Belém, de alguém com uma interpretação genuinamente progressista e não retrógrada da Constituição em benefício de todo o povo.

publicado às 12:08

Uma premonição

O primeiro erro de António Costa enquanto líder do governo não é óbvio nem tem sido apontado por aí. Aliás, nem poderia ser. Quem costuma ter o ónus de emitir análises fica-se pelo que lhe foi encomendado de véspera e, está claro, também pelo óbvio. O primeiro erro de António Costa está na estratégia ou falta dela para as presidenciais.

 

Costa é um adepto da inação no que ao confronto político diz respeito, isto é, deixa que os outros falem por ele e que a sua prática política fale por si. Evita o confronto direto e usa-o apenas quando a vitória parece mais que garantida, quando basta um leve sopro para derrubar o adversário. Foi assim nas internas socialistas e, em grande medida, nas legislativas. Nas eleições presidenciais que se avizinham a estratégia parece ser a mesma.

 

Costa deixou que as diferentes vontades dentro do seu partido se manifestassem a seu bel-prazer fazendo fé que o resultado disso mesmo pudesse ser capitalizado politicamente de uma ou de outra forma. Ora, o crasso erro reside aqui mesmo e quero dizê-lo com todas as letras em jeito de premonição: se Marcelo Rebelo de Sousa vencer as eleições presidenciais, o governo minoritário do PS tem os seus dias contados.

 

Marcelo apresenta-se com uma estratégia inteligente propagandeando uma ideia de si plena de moderação e de bom senso. Com isto ganha a aderência do centro político e, sobretudo por não haver nenhum contraponto minimamente sério da parte do PS, caminha para uma vitória confortável à primeira volta. A questão é que Marcelo não deixa de estar intimamente ligado ao seu partido e, assim que vencer, terá que alinhar, pelo menos em parte e ainda que não seja essa a sua vontade (o que não acredito), na estratégia delineada e fielmente seguida à direita, por muito estapafúrdia que legal e moralmente esta seja. Mais: a PaF tem nesta altura uma forte máquina de fazedores de opinião capazes de pressionar vários setores da sociedade e a generalidade dos media. Não será difícil imaginar que Marcelo possa ceder a tais pressões no momento preciso em que Costa cometer o primeiro erro no decurso da governação.

 

Não tendo percebido esta problemática, Costa dirige-se para a armadilha preparada pela PaF e, agora, não parece ter possibilidade de nela evitar cair. A única contraposição a tal cenário seria a apresentação de um candidato minimamente carismático que fosse capaz de assumir um discurso anti-PaF e incorporasse os valores que residem na base da formação da coligação parlamentar de esquerda. Seria necessário um discurso coerente e sólido; um discurso que fizesse a defesa evidente mas clara e resoluta dos acordos firmados para a legislatura que viabilizam o governo minoritário do PS; um discurso em clara oposição à inadmissível lengalenga da PaF; e que fosse capaz de levar a decisão a uma segunda volta. Aí, com a união de toda a esquerda, a conversa seria outra.

publicado às 22:48

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