Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Um novo estádio de hipocrisia política

Quando António Costa vem a Matosinhos criticar a Galp pelo encerramento da refinaria de Leça da Palmeira, uma decisão antecipada e defendida pelo seu ministro do ambiente e patrocinada pelo seu governo com os dinheiros europeus, então significa que a política atingiu um novo mínimo histórico, um novo estádio no que respeita à hipocrisia.

publicado às 19:12

Uma decisão política

Um empréstimo da magnitude dos que foram feitos a Joe Berardo não é uma decisão bancária: é uma decisão política e deve ser julgada exatamente sob esse ponto de vista. Um eventual crime neste contexto não pode, portanto, ser obra de um homem só. Quem nos quer vender essa versão da história está, em boa verdade, interessado apenas em proceder a uma lavagem de face e a uma mudança de poderes. É pena que, por esta altura, uma boa parte do povo já tenha perdido a memória do modo faraónico e, até, sebastiânico, como o comendador foi recebido em Portugal há coisa de pouco mais que uma década atrás e como o país lhe foi entregue numa bandeja de prata, museus, condecorações, entrevistas, financiamentos e outras coisas que tais.

publicado às 20:33

Revelações de ano novo

Não há ano novo que não venha acompanhado do já tradicional rol de aumentos de impostos e de preços. Este ano chamou-me a atenção o aumento daquela taxa que o povo paga todos os meses na sua fatura da água, que diz respeito à recolha e tratamento de resíduos sólidos, o que realmente constitui coisa admirável. As últimas décadas assistiram à privatização generalizada destes serviços de recolha de lixo pelas cidades do país, venderam-nos que a gestão privada é que era, potes de ouro no final do arco-íris, duendes e tudo o mais, mas afinal, gestão privada assim, também eu: é pedir ao papá estado para aumentar os impostos sobre o povo sem que este possa sequer estrebuchar e, então, é que é gerar lucros que é uma maravilha. Três vivas ao capitalismo!

 

Também fiquei a matutar com uma frasezinha dita pela jornalista, que muitos dos aumentos dos preços — o do pão, por exemplo — seriam devido ao aumento do salário mínimo nacional, visto os padeiros ganharem todos o salário mínimo, imagino que sim. Esta justificação tem muito que se lhe diga, não haja dúvida, mas, assim, sem que lhe acrescentemos o que quer que seja, é suficiente para servir de peneira para separar as esquerdas que se apresentam no plano político. Sabem? Aquela que até se gosta de chamar de social-democrata, daqueloutra que é esquerda a sério, revolucionária, que não quer deixar pedra sobre pedra. É que é mesmo assim: aumenta-se o salário mínimo, anuncia-se o mundo ao povo trabalhador miserável e, no mesmo suspiro, as empresas aumentam os preços de tal modo que ficamos sem saber bem se o que sobra nos bolsos do proletário é mais, é igual ou é menos do que antes dos aumentos respetivos.

 

É por isso que não bastam medidas pontuais, ainda que importantes nem que seja simplesmente para dinamizar de algum modo mais ou menos psicológico a economia por via do consumo. É preciso fazer a outra parte que apenas a esquerda revolucionária (onde é que ela anda?) está disposta a fazer: controlar a economia, controlar a especulação dos lucros, definir metas e tetos, impor responsabilidade social, essa mesma responsabilidade que é exigida a todos os cidadãos, que vem até plasmada na malograda conta da água em taxas para que os resíduos sejam bem tratados. A todos os cidadãos exceto, bem entendido, aos daquela classe que possui as rédeas do poder há tempo demais e a quem se permite que explore os recursos à medida do seu apetite pelos lucros. Um apetite que, a cada ano que passa, é maior, mais voraz e mais descontrolado.

publicado às 22:42

Problemas no paraíso

 

Já tínhamos tido conhecimento de que a administração do Novo Banco, acumulando prejuízos atrás de prejuízos, havia decidido distribuir prémios e dividendos pela administração e acionistas. O que não sabíamos era deste outro roubo: o Novo Banco vendeu a metade do preço o seu vastíssimo património imobiliário a um fundo com sede num paraíso fiscal, aparentemente ligado aos donos do Novo Banco, com dinheiro emprestado pelo Novo Banco. Confusos? Não há problema, o estado cá esteve, cá está e cá estará para injetar dinheiro diretamente na veia desta gente que este mesmo governo foi chamar à América para gerir brilhantemente o Novo Banco.

 

Há algo de poético em todo o processo, algo que atravessa dezenas de páginas carregadas de instituições de supervisão, desde as finanças, operações avultadas, transferências de imobiliário, passando, claro, pela banca. Tudo se passa com uma delicadeza e uma elegância tais que ninguém dá por nada, ninguém desconfia, nenhum alarme dispara, nenhuma campainha toca, até que a notícia rebenta nos media, meses depois da coisa estar mais do que feita e encerrada como, aliás, é da mais elementar das conveniências.

 

(Ai, se ao menos fossem tão eficazes como relativamente ao cidadão comum que não se pode enganar num cêntimo que seja na sua declaração de rendimentos e tem logo que ir justificar divergências aos serviços...)

 

Nada disto é surpreendente. Tudo isto constitui evidência das melhores práticas, do estado da arte da coisa, sem vestígio de ilegalidade, sem ponta por onde se lhe pegue.

 

O Novo Banco constitui-se, pois, como um exemplo académico para o futuro, um exemplo categórico de como o capitalismo, esse pico da evolução da humanidade, funciona, da sua estrutura moral e ética, de como conceitos como o «mercado livre» ou a «livre concorrência» são meras referências teóricas sem substância prática. O que o capitalismo produz é isto: promiscuidade, desigualdade, acumulação, exploração dos povos. E se na universidade não vos ensinam isto, então estão, seguramente, a estudar no sítio errado.

publicado às 18:27

TAP: cronologia de um roubo

https://guiaviajarmelhor.com.br/wp-content/uploads/2019/12/como-%C3%A9-voar-com-a-TAP-para-Portugal-4.jpg

image: guiaviajarmelhor.com.br

 

Sensivelmente a meio de 2015 ficava decidido o processo de privatização da TAP. O processo foi longo e levou décadas de apurada preparação da empresa para a sua entrega ao mercado privado, atravessou múltiplos governos, num roteiro que incluiu a condução de uma empresa lucrativa e dominadora de uma quota importante do mercado aéreo da influência da lusofonia a transformar-se, através de catastróficas operações de mercado e ruinosos negócios jamais explicados ou explicáveis, numa empresa de crónicos e avultados prejuízos operacionais.

 

A entrega da empresa aos ávidos abutres do mercado privado viria a ser feita, servida em bandeja de prata, a meias entre uma decisão de um fugaz governo de faz de conta de Passos e Portas, que até parece ter tomado posse para assinar à pressa meia dúzia de despachos do género deste da TAP, e um governo socialista que, geringonçado ou não, pôs em prática o seu característico e inesgotável engenho em baralhar, baralhar, baralhar para, no fim de contas, distribuir mãos iguais a todos os jogadores em redor da mesa.

 

A troco da empresa, o consórcio congeminado pelo estado a propósito da operação de privatização, terá depositado uma soma de 10 milhões de euros, valor risível, mas leoninamente defendido pelo governo devido à situação catastrófica que a empresa de aviação vivia na altura do negócio e com base no dinheiro que seria necessário lá colocar para tapar buracos financeiros.

 

Volvidos quatro anos de desastrosa gestão que enterrou a empresa a um nível de praticamente não retorno acompanhados, como é prática habitual, de chorudas distribuições de dividendos pelos acionistas, o estado vê-se forçado a intervir na TAP para que esta não deixe, pura e simplesmente, de existir.

 

Agora, assinale-se, o estado elabora manifestos impressionantes e tocantes no que diz respeito à importância estratégica da TAP para a economia nacional. É pena que não os tivesse elaborado, em coerência, no início de todo este processo quando já era governo. Em todo o caso, o estado procede a uma nacionalização encapotada, de acordo com as regras do mercado, adquirindo uma participação maioritária na empresa.

 

Para isso — pasme-se! — o estado desembolsará uma soma de cerca de 55 milhões de euros. Queira o leitor fazer-me o favor de recuar umas linhas neste texto e comparar com o valor que o estado terá recebido há cerca de quatro anos. Adicionalmente, também desta feita o estado não amortizará o valor de compra com o buraco financeiro da TAP tal como foi feito no processo de privatização. Bem entendido, o estado paga 55 milhões, paga o buraco financeiro da empresa e ainda outras tecnicalidades da treta, disfarçadas de empréstimos obrigacionistas ou outras coisas que tais, que são o mesmo que dizer que quem destruiu a TAP nestes anos, para além da choruda indemnização, vai continuar a receber uma renda do estado. Tudo legal. Tudo no estrito cumprimento da letra dos contratos e da lei. Tudo isto para que daqui por um certo tempo, necessário para que a poeira deste escândalo assente, se volte a entregar a empresa a privados em novo processo de privatização carregado de boas intenções.

 

Seremos sortudos, talvez, por podermos assistir, desde a primeira fila, ao mais maravilhoso do capitalismo em ação, como os estados burgueses se ajoelham, de pés descalços, aos interesses omnipotentes do capital. Isto é o que é o capitalismo de estado. Esqueçam as entradas enciclopédicas. Isto é o que é uma população a trabalhar para entregar integralmente o fruto do seu trabalho nas mãos de uma meia dúzia de senhores. Não é preciso ler Rousseau, Marx ou Proudhon: aí está, diante de nós, tão viva, pulsante, a natureza do sistema, não carece de explicação. Chega, por isso, de desculpas.

 

Chegam-nos notícias de que algo de parecido também se prepara na Efacec. Depois de se ter entregado a empresa a interesses angolanos e de ela ter sido abandonada a uma espécie de limbo com origem nas lutas pelo poder nesse país às quais nós, Portugal, enquanto menino bem comportado, de bem com deus e com o diabo, nunca nos opusemos, prepara-se uma nacionalização da empresa, que deve ser entendida como um não se preocupem: aqui estamos nós para pagar o que se deve, já com a promessa antecipada de reprivatizar a empresa o mais depressa possível.

 

É por estas e por outras que, quando nos dizem que um liberal abomina as nacionalizações ou essa pérola do “não há almoços grátis”, não nos devemos acreditar. É que é exatamente ao contrário: os liberais adoram as nacionalizações. As nacionalizações são os almoços, os jantares, os lanches, os carros, os aviões, os cartões de crédito, os plafonds ilimitados, tudo grátis. Tudo grátis. Só que é só para alguns.

 

O dever de qualquer força revolucionária deveria ser, pois, a total oposição e recusa em participar nesta encenação, neste roubo descarado, eternamente perpetrado pelos governos burgueses ao seu povo e não fazer parte deste ciclo vicioso golpista, nem que por mera inocência ideológica, como é o que normalmente acontece.

 

E nós, enquanto povo, devemos dar-nos por satisfeitos e orgulhosos: em todo este processo estamos mais pobres, mais endividados e patrimonialmente delapidados, de futuro eternamente adiado, embora tenhamos a maioria na TAP. O estado, esse, fez exatamente o que lhe competia nesta economia de mercado global que tanto adoramos: prepara-se para pegar no dinheiro do povo e em contrair dívida em nome do povo para sustentar as fortunas da burguesia.

 

 

publicado às 13:28

Infelizmente, não há muito a dizer sobre o covid-19

No preciso momento em que escrevo, encontramo-nos em pleno ano vigésimo do vigésimo primeiro século do calendário gregoriano. Importa escrever estes números por extenso para sermos forçados a soletrar, para sermos compelidos à interiorização da realidade. No ano dois mil e vinte esse ente coletivo a que chamamos de humanidade pode elencar com orgulho as inúmeras desventuras por que passou, o sem fim de odisseias ultrapassadas pela força, abnegação, sofrimento e, também, imaginação e engenho, enfim, o interminável rol de enfrentamentos por que passou para chegar a este ponto, o ano de dois mil e vinte.

 

Na Ciência, essa construção humana suprema, alicerçada sucessivamente no conhecimento dos nossos antepassados, encontramo-nos a atravessar aquele limiar mitológico aspirado apenas nos sonhos mais loucos dos antigos, aquele limiar que separa a vulgar mortalidade da eternidade dos deuses. Aquilo que era não mais que um intangível sonho, somente descrito na loucura febril da literatura fantástica, é hoje realidade: manipulação do código genético dos animais e dos seres humanos, clonagem de órgãos e seres completos, a internet, um planeta envolvido por uma rede de conexão instantânea, tecnologia robótica microscópica, máquinas que tomam decisões autónomas com algoritmos que conseguem evoluir e aprender com a experiência, a lista continua, não tem fim.

 

Chegámos a este ponto. Tomámos em mãos poderes divinos. E, todavia, não conseguimos ter uma ideia clara sobre um vírus de gripe chamado de covid-19. Decifrámos com sucesso cada proteína do ácido desoxirribonucleico da pessoa humana, mas parecemos ter dificuldades inultrapassáveis com a compreensão da estrutura de um minúsculo ser vivo de umas poucas centenas (?) de nanómetros de diâmetro e que já anda por aí a criar o caos há, pelo menos, quatro meses.

 

Não sei o que vos parece mas, a mim, tudo isto é estranho, é bizarro.

 

Em boa verdade, não há muito a dizer sobre este covid-19, quer dizer, sobre o vírus em si. Podemos dizer muitas coisas sobre o modo como estamos a lidar com ele, sobre a forma como está a afetar a nossa sociedade, o nosso modo de vida, os negócios, os empregos. Podemos perorar sobre a inexorável e definitiva incapacidade estrutural das nossas sociedades em lidar com este vírus ou com situações análogas. Podemos comprovar como um simples vírus põe a nu as assimetrias e iniquidades do sistema que escolhemos para nos organizarmos coletivamente e como, nestas alturas, a validade e atualidade dos conceitos de luta de classes, proletariado e burguesia emerge aos olhos de quem os tem abertos e atentos. Note-se como as grandes empresas, as grandes multinacionais permanecem mais ou menos intocáveis. Para o povo, a luz não vai deixar de ser paga, nem a água, nem os planos de comunicações, de TV e de internet, nem as rendas, nem os impostos. Para as grandes empresas, linhas de crédito, dinheiro de graça, nenhuma PPP ou renda estatal será  suspensa assim, leis escritas à medida incluindo layoff’s de conveniência para se deixar de pagar e para se despedir de forma organizada ao mesmo tempo que se recebem apoios para não se despedir trabalhadores. Tudo isto o covid-19 deixa claro, isto e que os homens não nascem todos iguais particularmente em tempos de crise imbuídos de um espírito de falsa solidariedade.

 

Mas sobre o vírus propriamente dito não, não é possível dizer muito. Este é um vírus que já foi capaz de envergonhar as autoridades nacionais e estrangeiras de saúde que já tiveram que retirar, corrigir e refazer cada afirmação inicial que fizeram sobre ele. Ainda hoje, a multiplicidade de notícias díspares e contraditórias que contaminam o espaço informativo é superlativa. Há notícias que apontam para várias estirpes diferentes do vírus que afetam diferentes geografias. Ao mesmo tempo surgem artigos que ensaiam defesas inequívocas de que este covid-19 tem uma origem natural, que é um produto natural da mãe natureza. Qual é a probabilidade que assim seja? A sério, qual é a probabilidade de um vírus aparecer de modo natural assumindo características tão diferentes em países como o Irão, Itália ou China?

 

Tudo isto é bizarro como é bizarro que países diferentes adotem formas bastante diferentes para lidar com o problema e, aqui, nem me refiro a casos surreais como o do Brasil de Bolsonaro. Não, refiro-me à Suécia ou à Holanda, sempre tidos como exemplos na Europa e no mundo. Tudo isto é bizarro. Tudo isto é estranho. E é, por isto mesmo, que não há muito a falar sobre o covid-19.

 

Sinto-me verdadeiramente próximo daqueles camponeses que viviam algures na idade média sob o jugo de um conde com poder absoluto e da igreja mais obscurantista que dizia que tudo era obra de um deus sempre zangado connosco por muito que vivêssemos e morrêssemos a trabalhar. Sinto-me muito próximo desse camponês. Hoje, não há condes, nem igreja, nem deus. Todavia, vivemos identicamente mergulhados num lodaçal, num vazio de informação e de conhecimento. Temos acesso a muita coisa, a muita informação sem critério, mas não sabemos nada de nada e tudo o que sabemos é-nos plantado na consciência. Sobeja-nos apenas uma noção clara das incongruências, das inconsistências, uma perceção de que estamos efetivamente a ser enganados.

publicado às 15:55

Os tempos mudaram e não demos por isso

Os tempos mudaram e parece que não demos bem por isso.

 

O canal de televisão público atrasa a estreia da nova temporada do Sexta às 9, o programa de investigação jornalística de Sandra Felgueiras, para depois das eleições. A primeira reportagem do programa, entretanto autorizado a estrear depois de vencidas as eleições legislativas, versava o caso da concessão da exploração de lítio em Portugal.

 

Percebe-se bem, agora, a razão de ser da “demora” ou do “atraso”. Uma concessão feita com conveniente celeridade a uma empresa constituída, também ela, à pressa, sem garantias, desrespeitando pressupostos legais e ambientais, revelando uma promiscua combinação entre as partes envolvidas. Ao que consta, as cenas dos próximos capítulos deste suposto golpe seguirão no tribunal.

 

Reparamos que os tempos mudaram quando uma reportagem que pode ter consequências políticas graves é retida e nada acontece, não há indignação e ninguém se sente beliscado na sua liberdade e princípios fundamentais. Reparamos que os tempos mudaram, quando um escândalo destes vem a público e nada treme neste país. Os governantes refugiam-se em interpretações abusivas da lei e em pareceres da estrutura a que presidem e influenciam, como se isso pudesse servir de justificação.

 

Os tempos mudaram e não demos por isso.

publicado às 19:01

Uma revolução para os séculos que se apresentam adiante

O que mais me dói é perceber esta ilusão em que vivo. Acreditem. A minha maior dor é essa. Sabem? A ilusão de que vivemos em democracia, de que somos livres, de que nascemos iguais e de que somos tratados como iguais pela lei e pela justiça. A ilusão de que existe justiça...

 

Essa dor acaba por ser natural, claro, pois o viver é como que um eterno acordar para a realidade, de um sono de ilusão que nos é imprimido desde o berço. E cada um de nós acaba por entender o alcance tangível dessa construção de castelos de nuvens sobre as nossas cabeças. Todos nós, uns mais cedo, outros mais tarde, acabamos por bater de frente com essa parede de fantasia, vítimas dessa mesma quimera que fomos alimentando ao longo da vida.

 

As publicações deste blog têm tratado abundantemente da parte política do problema. Como pode haver, afinal, democracia quando cada escolha é condicionada de antemão e quando quem efetivamente tem o poder de decisão nunca se expõe ao sufrágio popular? Deixemos, portanto, esta vertente de parte.

 

Falemos de justiça.

 

Falemos de justiça, porque a justiça constitui proverbialmente, no contexto da nossa configuração social, a espada definidora das liberdades individuais e coletivas e o escudo que protege o valor mais precioso que urge entre os homens dos nossos tempos: a igualdade. Uma justiça parcial implica, naturalmente, a diferenciação entre os homens no que às suas liberdades diz respeito. Uma justiça parcial é estruturadora de uma sociedade de classes de homens diferenciadas em influência e em poder, umas sobre as outras.

 

Olhemos, pois, para a justiça. Acompanhemos alguns casos, os que afetam as pessoas que nos são mais próximas e os outros, os mediáticos, que nos impingem olhos adentro. Recolhamos informação. Ontem mesmo, surgiu mais uma notícia que ilustra bem o estado da coisa. Uma vez mais, as grandes corporações burguesas do país, saem incólumes dos crimes cometidos e ainda se vangloriam disso mesmo em plena praça pública. Mas os casos sucedem-se em catadupa. Não façamos deste caso exemplar, porque o exemplo é o dia-a-dia da sociedade. O exemplo foi ontem, é agora e será amanhã também, seguramente.

 

Repare-se que não basta à burguesia reinante ditar as regras com que a sociedade se deve reger em seu benefício. Não. Ainda é necessário poder quebrar essas mesmas regras quando convier e garantir que a esponja purificadora dos tribunais passará sobre os seus delitos e os absolverá perante a sociedade. No passado havia a igreja que detinha esse papel de absolvição moral. Hoje, convenhamos, os tribunais prestam um melhor serviço.

 

Pensar que existe justiça na sociedade burguesa é a ilusão das ilusões. Pensar que a lei nos vê a todos como iguais é fantasia, é ficção. A nós, comuns mortais, resta-nos a nossa inteligência e o nosso senso que servem de amarras ao real e ao concreto. E manter bem viva a consciência de que não existem saídas para este sistema corrupto e despudorado dentro do próprio sistema. Não se pode reformar o que detém natureza ímpia, vil e desprezível.

 

A revolução da sociedade é o único e derradeiro caminho que nos resta. Uma revolução para os séculos que se apresentam adiante. Uma revolução que se impõe para nos catapultar para uma modernidade de bem estar, de paz, de cultura e de elevação intelectual. Para construir uma sociedade fraterna de irmãos, colocando a tecnologia ao serviço de todos, e não uma sociedade de inimigos em constante disputa por uma côdea de pão sob o olhar atento de meia dúzia que toma todos os recursos do planeta para seu próprio proveito.

publicado às 08:34

O que é preciso é efetuar o pagamento

Se é que já não soubéssemos, ou pelo menos desconfiássemos, ficou demonstrado que a renovação periódica do Cartão de Cidadão é apenas mais um imposto encapotado que nos é extorquido.

 

Afinal, no contexto da falta de pessoal nos serviços, até parece que é possível renovar o CC pela internet. Nenhum funcionário dos serviços da Conservatória do Registo Civil é necessário, seja para averiguar se a fotografia está adequada à identificação do cidadão requerente, seja para verificar se os dados pessoais estão corretos, ou o que mais fosse que imaginávamos ser do domínio da sua serventia. Pela internet, sem qualquer contacto pessoal, a uma distância de um conjunto finito de clicks, a coisa fica feita em modo automático.

 

O que é preciso é efetuar o pagamento.

publicado às 21:38

Mais sobre mim

imagem de perfil

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub