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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Uma decisão política

Um empréstimo da magnitude dos que foram feitos a Joe Berardo não é uma decisão bancária: é uma decisão política e deve ser julgada exatamente sob esse ponto de vista. Um eventual crime neste contexto não pode, portanto, ser obra de um homem só. Quem nos quer vender essa versão da história está, em boa verdade, interessado apenas em proceder a uma lavagem de face e a uma mudança de poderes. É pena que, por esta altura, uma boa parte do povo já tenha perdido a memória do modo faraónico e, até, sebastiânico, como o comendador foi recebido em Portugal há coisa de pouco mais que uma década atrás e como o país lhe foi entregue numa bandeja de prata, museus, condecorações, entrevistas, financiamentos e outras coisas que tais.

publicado às 20:33

Uma cultura enraizada

Começam a vir à tona as contrapartidas gizadas pela União Europeia para nos conceder as generosas verbas previstas para os próximos anos e que compõem a chamada “bazuca”.

 

São de uma estirpe muito particular os inventores destes termos, destes epítetos tão graciosos. Podiam ter chamado de “avença”, “renda” ou, até, “esmola”, mas decidiram-se por “bazuca”, como uma arma potente para destruir qualquer coisa, qualquer coisa de muito mau, no contexto de uma guerra.

 

Como dizia no princípio, começam a vir à tona as contrapartidas para “tanto” dinheiro. Fala-se, por exemplo, num acordo para um plano reformista ao nível do que foi implementado no tempo da troika e no contexto de um plano de continuada liberalização da sociedade. Raquel Varela referia, n'O Último Apaga a Luz, que está prevista, por exemplo, a liberalização das profissões liberais tais como, por exemplo, os profissionais da área da medicina, cuja atividade deixaria de ser regulada pela respetiva Ordem. Já sabemos que, em circunstâncias análogas, só conheceremos os detalhes quando os mesmos estiverem prestes a bater-nos, de modo inevitável, na cara. Para já, ainda é cedo. Quem é que, todavia, precisa deles para ter a certeza do que se está cozinhar?

 

Quando se fala na “bazuca” ou se discutem os dinheiros vindos de Bruxelas notamos uma cultura instalada, solidamente sedimentada ao longo dos tempos, que é de uma falta de patriotismo, de um provincianismo e, fundamentalmente, de uma ignorância aterradores. O pensamento dominante é de que este dinheiro “nos é dado” e, adicionalmente, de que “ainda bem que nos impõem regras, que é para não ser a corrupção do costume”.

 

O que se pode dizer? Que estudem? Adiantará de alguma coisa? Que a nossa posição de submissão económica no contexto da União Europeia nos faz, de facto, credores e não devedores face aos proveitos das grandes economias europeias? Será que adianta dizer isto? E dizer que não se pode defender a democracia para a Bielorrússia num dia e no outro defender a imposição autoritária e não sufragada de políticas decididas por potências externas sobre o nosso povo? Será que adianta? Lamento, mas hoje não me sinto particularmente otimista. Os ignorantes não se cansam em repetir constantemente os seus discos. Eu já me canso rapidamente. E já aí está a religião do povo, prestes a começar com uma homilia cantada tão alto que faz parecer tudo o resto muito pouco importante.

publicado às 14:45

Colhemos hoje o que plantámos ontem

Foi interessante acompanhar as ondas de choque produzidas pelo comentário semanal de Pacheco Pereira, a propósito daquela convenção protofascista organizada na semana anterior e ironicamente designada por MEL. Cada vez mais reconheço na nossa sociedade um status quo permanente de «o rei vai nu», mas com uma diferença importante para com a história do cancioneiro popular. É que, quando alguém tem a “indelicadeza” de erguer o dedo em riste e chamar a atenção sobre o óbvio, em vez de fazer com que os restantes se desinibam e reconheçam-no também, gera-se a maior e a mais violenta das discussões sociais. Neste caso, foi Pacheco Pereira que apontou o dedo aos simpatizantes, mais ou menos descarados, do fascismo e, dizem eles, dos seus méritos.

 

Há uma tecla em que Pacheco Pereira tem insistido e que tem muita razão. Os tempos da troika criaram e solidificaram uma massa reacionária de extrema-direita muito ativa nos media e nas redes sociais. Ele chama-lhes think tanks, embora a palavra think seja em si mesma demasiado abonatória para aquilo que é, de facto, feito. Trata-se, no fundo, de um conjunto de influenciadores digitais, especificamente dedicados à política, que exercem a sua atividade em todos os domínios da esfera comunicacional como se de uma espécie de bullying se tratasse. Estão nos jornais, na opinião publicada, nos blogs, nas redes sociais e, virtualmente, em todas as caixas de comentário digitais. Estão lá e são sempre os primeiros a chegar. Têm, inclusive, os seus próprios jornais, rádios e canais digitais, para além de terem lugar reservado nos principais canais de televisão.

 

Quando Pacheco Pereira escreveu o óbvio, imediatamente, claro está, surgiram respostas prontas, como se estivessem já preparadas de véspera, escritas pela mão de gente mais ou menos desconhecida, mas, surpreendentemente, ou não, falando do alto da academia, com posições em prestigiadas universidades nacionais ou internacionais. Este é o ponto que considero preocupante. Não é que o acesso à academia devesse ser condicionado às opiniões políticas individuais: nada disso. Trata-se apenas da constatação de um facto empírico: as faculdades parecem, mais e mais, estar inundadas de pessoas com opiniões muito à direita, ultraliberais e reacionárias. Quando no passado se passava um pouco o contrário, com a esquerda a deter alguma preponderância nas universidades, hoje as coisas parecem viradas radicalmente do avesso.

 

Podemos pensar que tudo isto é obra do acaso, mas não poderíamos estar mais equivocados. Retorno ao título deste texto: colhemos hoje o que temos andado a plantar ao longo dos anos, com o favorecimento sustentado de quadros mediante o seu enquadramento ideológico; a contratação de assistentes convidados em detrimento de pessoal de carreira que, longe de ser uma medida simplesmente economicista, também é uma medida política, é o privilegiar de uma escolha discricionária e arbitrária de quadros superiores que, depois, acabam por se eternizar nesses lugares; já para não falar do processo obscuro que se tornou a atribuição de fundos a centros de investigação e de bolsas de estudo de investigação; ou da disseminação, como cogumelos, das faculdades privadas para dar notoriedade e emprego a amigos de partido, hoje modernamente chamadas de business schools; e que, tudo junto, tem produzido o que temos hoje, uma academia abundantemente composta por uma mediocridade intelectual assustadora, especializada, sim, mas que ocupa os lugares não por mérito, essa palavra que, ironicamente, lhes é tão cara, mas sobretudo pelas insígnias inscritas que exibe no respetivo cartão de militante.

 

É confrangedor, pois, ver todo este espetáculo na praça pública, este debate medíocre, sem argumentos que não os constantes ad hominem: de um dia para o outro acordámos para um mundo em que as discussões de café passaram para a opinião pública. Só que não foi de um dia para o outro, estamos a colher o que plantámos ontem. O mais grave, porém, são as outras consequências, a jusante, para a sociedade: a desconfiança na ciência, um relativismo absoluto, a perda de referências morais, a descredibilização da academia. Mas isso, já são outras conversas.

publicado às 09:52

Confiemos nas vacinas. Não temos alternativa.

É bom que o processo de vacinação esteja a correr tão bem quanto se apregoa por aí e, já agora, que a eficácia das vacinas seja tão boa quanto anunciado pela propaganda. É que, depois do que se passou com os ingleses no Porto, nem com o exército se vai parar mais o povo de retomar a sua vida normal. O governo perdeu todas as réstias de autoridade que ainda detinha sobre este assunto.

publicado às 13:31

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