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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

“Toma este texto; lê-o em voz alta; diz-me o que compreendeste.”

Sou da opinião que, em vez de se fazerem exames para seriar os alunos para o acesso ao ensino superior, deviam ser feitos exames para averiguar o que os alunos realmente sabem quando saem da escolaridade obrigatória. Deviam ser sujeitos a exercícios pragmáticos do género:

 

“Toma este texto; lê-o em voz alta; diz-me o que compreendeste.”

 

Com isto não tenho intenção em defender qualquer tese. Esqueçam qualquer controvérsia.

 

Há coisas para as quais não é necessário grandes ciências. Basta observar, ter olhos na cara e cabeça para pensar. No dia-a-dia, na prática quotidiana, as observações empíricas e o bom senso ganham de goleada a qualquer ciência e a qualquer pseudociência. Estas últimas escudam a sua incapacidade e inépcia gritantes em números mais ou menos manipulados e em interpretações estatísticas grosseiras e enviesadas. Nós não precisamos desses números, nem de qualquer estatística. Temos olhos na cara. Temos cabeça para pensar.

 

“Toma este texto; lê-o em voz alta; diz-me o que compreendeste.”

 

“Não sabes? Não consegues ler duas palavras seguidas sem titubear as sílabas, sem engasgar nessa palavra que nunca viste numa sms?”

 

“E diz-me, o que compreendeste? Sim, o que retiraste disso que te dei? Não sabes? Ah...”

 

“Tens 18 anos já, ou vais fazê-los antes que o ano acabe, e não sabes ler, nem sabes compreender um texto. Quer dizer: sabes gaguejar as letras, és proficiente na escrita de mensagens de texto e a comentar no facebook ou no twitter. Mas não sabes compreender um parágrafo de texto simples, escrito em português simples. Não é um poema de António Nobre. É uma prosa simples. Proficiente! Quer dizer: hábil ou capaz! Já consegues perceber com estas palavras? São mais fáceis de entender? Também não sabes quem é António Nobre? Pois não. Desculpa, foi erro meu pensar o contrário.”

 

“Sabes que já podes ou que poderás votar em breve? E que poderás escolher o governo e as políticas deste país? Sabes que o teu voto valerá tanto quanto o meu? E, todavia, não sabes ler este texto que te dei... Pelo menos já sabes o que significa a palavra proficiente. Eu sei, eu sei... Eu sei que a política é uma seca e não queres saber dela para nada. A questão é que a política é feita de pessoas como tu que se servem de pessoas como tu, que não sabem ler, nem conhecem António Nobre ou o significado da palavra proficiente, apesar de terem doze anos de escolaridade, ou mais...”

publicado às 09:37

A era da pseudociência

É muito comum referirmo-nos à era moderna como sendo a era do primado da ciência sobre tudo o resto. Mas o que o homem comum desde há muito se habituou a identificar como ciência está mais longe de o ser do que a velhinha alquimia que se praticava nos tempos antigos.

 

Aquilo a que convencionámos chamar de ciência não é mais que um ritual pouco sério e pouco credível. Chamam-lhe método científico e a sua criação foi, no seu tempo, revolucionária. Estabeleceu os princípios para se analisar fenómenos, para se isolar fatores e condicionantes e se poder extrair relações de causalidade efetivas. Nasceu das ciências abstratas e puras e o seu sucesso rapidamente alastrou a todas as áreas do saber, inclusivamente às chamadas ciências sociais e humanas que, por isso mesmo, passaram a exibir orgulhosamente o epíteto “ciência” nunca antes a elas aplicado.

 

A questão é que o método científico não garante nem confere rigorosamente nada a nenhum estudo: não garante qualidade, nem causalidade, nem confere autoridade a nenhuma conclusão que deles se retire. O que faz é estabelecer critérios que mais não são do que bases de aplicação teóricas apenas verificáveis e aplicáveis em trabalhos teóricos de ciência pura. Nas ciências práticas e, sobretudo, nas ciências sociais e humanas, o isolamento de qualquer variável ou a escolha de uma amostra equilibrada é manifestamente impossível o que invalida o método e as conclusões de todo e qualquer estudo. Em bom rigor, estes estudos apenas poderão servir para apontar um caminho ou uma tendência. As suas conclusões reduzem-se a meras sugestões. Isso mesmo: sugestões, não leis.

 

Não é por acaso que a sociedade atual vive assolada por estudos frequentemente contraditórios. Não é por acaso que todos os dias surgem conclusões “científicas” que contrariam as que foram retiradas no estudo anterior. Isto é fruto de um uso errado natural mas também abusivo de um método desadequado. Na era atual governada pela burguesia e pelos seus interesses, a ciência é também uma refém natural. Não só faz um uso do método científico para produzir os resultados esperados pelos seus mecenas como, dentro das suas próprias fronteiras, a competitividade desenfreada e obcecada por resultados rápidos resulta normalmente numa manipulação forçada do método, da escolha enviesada das amostras e num tratamento estatístico abusivo da informação recolhida.

 

Na base de todo o processo reside um objetivo fundamental: o controlo e a manipulação das massas e do seus pensamento. A ciência está reduzida a isto na era moderna: uma pseudociência, uma ferramenta para uma tarefa, um meio para se atingir um fim, longe do conhecimento e da verdade onde a verdadeira ciência deveria residir. Muito longe.

publicado às 21:27

Segurança social de quem?

Deixem cá ver se eu entendo isto.

 

Este ano a idade da reforma aumenta mais um mês para os 66 anos e 4 meses. No próximo ano aumentará mais um mês, em princípio. Dizem que é devido ao aumento da esperança média de vida. Dizem que é para a segurança social ser sustentável. Confesso que não consigo detetar em meu redor quaisquer sinais, por singelos que sejam, que apontem para esse afamado aumento da esperança média de vida. Pelo contrário, vejo o povo a morrer como sempre morreu e na idade em que sempre morreu. Até me parece ver mais gente a morrer antes do seu devido tempo devido a doenças do foro oncológico. Mas isso são as minhas observações empíricas. Não tenho autoridade científica para contrariar o que é dito nos jornais e que toda a gente repete em forma de lei. E que assim seja: que efetivamente estejamos todos a viver por mais tempo!

 

Já relativamente à questão da sustentabilidade da segurança social... Parece que a sustentabilidade da segurança social só se faz por esta via, isto é, pelo aumento da idade da reforma e pela diminuição consistente das reformas em si. Se não, vejamos: a segurança social continua a financiar a burguesia através de estágios por ela remunerados e de emprego precário via o instituto de emprego; a segurança social continua a desviar milhões para os orçamentos de organizações privadas mais ou menos relevantes como a Raríssimas; a segurança social continua a financiar fundações que vivem exclusivamente da teta estatal e cuja função social é incerta ou desconhecida, como a Fundação Mário Soares, por exemplo.

 

Em suma, a segurança social tem suficientes dotações para anualmente servir de plataforma para o estado roubar o dinheiro do povo e injetá-lo diretamente nos bolsos da burguesia e das sua clientelas politico-económicas para que as primeiras incrementem os seus já gordos lucros e as segundas se sustentem principiscamente. Ao mesmo tempo, esse mesmo povo deve rever as suas expectativas em baixa quanto à sua idade de aposentação e ao valor da sua reforma, pois, se não o fizer, a sustentabilidade da segurança social ficará em risco.

 

O embuste é tal que até dá vontade de rir. O que devia ser o princípio lógico de uma rebelião em grande escala contra quem nos governa é interiorizado e repetido como uma verdade incontestável. Que estranho povo sem caráter e sem espinha nos tornámos!

publicado às 18:55

Janeiro mostra a verdadeira face do sistema

O mês de janeiro mostra a verdadeira face do sistema, para quem a quiser ver. Os pequenos aumentos salariais veem-se, afinal, abafados pelos generalizados aumentos dos custos dos bens essenciais.

 

É por isto que tantas vezes insisto neste ponto: fazer de pequenas conquistas bandeiras é fatalmente inútil. De pouco vale um aumento de 5% no salário se o custo de vida aumentar 10%. Não deixa de ser uma conquista, bem entendido. Mas também não deixa de ser uma derrota no combate maior por uma distribuição de riqueza mais justa. Todas as medidas têm que ser compreendidas comparativamente nesse contexto económico maior. E não isoladamente.

publicado às 21:06

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