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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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Pop Nobel

A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan deve ser entendida no estrito contexto de pronunciado declínio da Literatura no mundo contemporâneo. Esse declínio está intimamente conectado com o esbatimento das formas, dos conceitos, em particular no que diz respeito à forma romance e ao próprio conceito de arte.

 

O capitalismo tem destas coisas. Como na nossa sociedade há apenas uma entidade, um valor, que se sobrepõe a todas as outras — o capital —, então é apenas uma questão de tempo até que todas as outras se moldem e se esbatam em função dessa.

 

O romance dos tempos modernos saiu de moda. É um produto que quase que não se fabrica mais. A sociedade da competição, a vida a mil à hora, não se coaduna com a leitura de um escrito substancial, massivo, que necessita de tempo para ser entendido, de horas consecutivas para ser apreendido, interiorizado. Esta sociedade prefere, com efeito, o parente pobre do romance, o chamado romance de cordel. Não interessa se o desenrolar do mesmo seja uma meia dúzia de lugares-comum que se repetem ad nauseam. Com efeito, é melhor deste modo: assim poupa-se no pensar. Por outro lado, o que interessa mesmo é o número de cópias vendidas — lembram-se? —, não é a arte que é vertida em tinta nas páginas brancas.

 

Por seu turno, o conceito de arte tornou-se numa entidade mais abstrata do que qualquer outra, do que jamais foi. Chegamos ao ponto de medir a arte de uma obra pela publicidade gerada, pelo número de likes e de partilhas, para além do número de vendas. Podemos dizer que não, mas na prática é exatamente assim. Se existisse um mínimo de brio profissional na edição livreira, se existisse um mínimo de consideração, de amor, pela arte, se houvesse um conceito concreto qualquer que fosse, então uma boa parte dos livros à venda atualmente nas estantes das livrarias não seria sequer publicada, simplesmente. Não é possível perceber como é que se pode produzir tanto lixo em forma de livro se não se imaginar que possam existir outros objetivos afluentes que se pretendem atingir junto das massas.

 

A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan, já o tinha escrito neste blog a propósito de Vargas Llosa — nem de propósito! —, não é muito relevante, mas deve ser entendida sob este ponto de vista. Há quem diga, e com toda a razão, ser incrível que Portugal, historicamente um país de excelentes escritores, ter apenas um laureado comparativamente com outros países como a Suécia que tem sete vencedores. Isto também diz muito sobre a qualidade das escolhas. Contudo, pela forma como a carruagem Nobel está a fazer o seu caminho, tenho muito receio que o próximo português vencedor do Nobel da Literatura, ou desta nova versão do Pop Nobel, venha a ser algum escritor da espécie de José Rodrigues dos Santos. Tenho receio porque, acima de tudo, se está a tornar provável e porque ainda me sobra alguma noção do ridículo e, por isso, também alguma vergonha.

publicado às 22:07

Se conduzir, não ouça mentecaptos

https://1.bp.blogspot.com/-NjVYtmL6srU/Tf6wfWs9c9I/AAAAAAAAAc0/_0xLJFswB5c/s1600/BrandonDrives.jpg

 

Hoje estava a ouvir uma senhora na rádio que dizia que os desafios de Guterres enquanto Secretário Geral das Nações Unidas eram enormes por, segundo ela, ter que lidar com uma política expansionista da Rússia na Crimeia e na Síria. Realmente, de quando em vez, muito mais frequentemente do que seria desejável, apanha-se com cada mentecapta nos media que chega a ser aterrador. Talvez radique aqui a razão de ser de muitos acidentes de viação. Confesso que, eu próprio, dei um pronunciado ziguezague na via não tendo chocado com outra viatura por uma unha negra.

 

Para a mentecapta senhora, que refira-se, a talhe de foice, é professora de faculdade!, o problema do mundo é a Rússia ter uma política expansionista particularmente na Síria! Não, a política externa dos Estados Unidos nem é expansionista nem tem qualquer problema. As guerras criadas ao longo deste novo milénio pelos americanos não têm qualquer problema. O problema é a intervenção russa.

 

Sem a intervenção russa, a Síria estaria seguramente dominada por esta altura pelo Estado Islâmico. A intervenção russa permitiu libertar, aliás, muitas cidades importantes e estratégicas do controlo dos terroristas. Relembro aqui a libertação da cidade de Palmyra.

 

Mas para a mentecapta senhora, o problema de António Guterres é a Rússia... É preciso ter cuidado: se conduzir, não ouça mentecaptos. Pode originar sinistros.

publicado às 21:23

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