Algumas considerações sobre o pessimismo
Deixo aqui a ligação para mais um excelente artigo de José Pacheco Pereira. Destaco o parágrafo final, o qual não dispensa a leitura integral do texto.
O que se passa neste infeliz País é que há demasiadas coisas a puxar para "baixo" ou a travar o caminho para cima. E como se passa sempre nestes casos não faltam pessoas, muitas por interesse ou elitismo – isso sim verdadeiro elitismo –, a ajudar a manter o estado de coisas. Aqui, como em muitas outras matérias, há também uma "luta de classes" latente, que encontra um "ópio" (e uso deliberadamente uma das expressões mais viciadas que há) neste embrutecimento colectivo. Com uma classe média a afundar-se na proletarização, dificilmente seria de outra maneira. Mas não há problema, vem aí o futebol…
Pacheco Pereira in Sábado, 2 de setembro de 2016
Não são poucas as vezes que este blog é acusado de ser demasiadamente pessimista ou negativista. De quando em vez, lá recebo uma mensagem nesse sentido. Há alguma verdade nessa crítica e eu compreendo-a e aceito-a de bom grado. Há que realçar, contudo, dois ou três aspetos.
Em primeiro lugar, o conceito primordial do Porto de Amato é a observação crítica, é a partilha de pensamentos e de reflexões que partem da experiência pessoal de quem nele escreve. Este blog não obedece nem a critérios científicos, nem jornalísticos, nem tão pouco está preocupado com isso. Sobre a voz do Porto de Amato não são exercidos quaisquer constrangimentos externos e procura-se fazer dela um instrumento de ação e de intervenção sociológica através de uma análise e reflexão antropológica objetiva, culta e politicamente comprometida.
Não me enganei. Repito: politicamente comprometida. Isto não quer dizer que o Porto de Amato tem os seus artigos ditados por algum partido ou movimento político. Afirmo aqui a total independência deste blog. Todavia, é um espaço politicamente assumido e politicamente comprometido, distanciando-se frontalmente de outros blogs que, apregoando neutralidade política, na prática, comportam-se como autênticos amplificadores do pensamento da burguesia reinante. A neutralidade é, aliás, um estado manifestamente utópico. Condição essencial para se ser neutro é estar-se calado, porque a partir do momento em que se começa a falar, a escrever, a emitir qualquer recorte de opinião, está-se a tomar posição política quer se queira, quer não.
Em segundo lugar, não é verdade que não pontifiquem neste espaço artigos elogiosos, de regozijo ou de partilha de satisfação por determinados eventos. Há exemplos vários, basta procurar. O que acontece simultaneamente, é que no Porto de Amato não há lugar para o elogio gratuito e qualquer louvor vem acompanhado, em regra, de alguma consideração crítica, o que resulta natural pela intangibilidade da perfeição na ação humana.
Em último lugar, creio que o pessimismo é muitas vezes pouco considerado no que respeita ao potencial que realmente contém. É importante distinguir o “bota abaixismo” da crítica válida, ponderada e construtiva porque esta será, em última análise e tal como podemos observar da leitura do parágrafo supratranscrito, o melhor conselho para a autopromoção e para aprimoramento das sociedades, dos processos e dos indivíduos.