Aura de santidade política
Existe uma aura de seriedade e, até, de superioridade moral que envolve a personalidade de Rui Moreira, aquele que, por ora, ocupa o cargo de Presidente da Câmara do Porto. Essa aura é-lhe conferida pela generalidade da população. Para quem vive em redor da região do Porto isso é muito claro. A população da região do Grande Porto adora o seu Presidente e dedica-lhe os comentários mais abonatórios. Basta calcorrear as ruas, frequentar os cafés da cidade. Nas celebrações da eucaristia, os clérigos, imagino, dedicar-lhe-ão parte das homilias, e o povo, em geral, entoará cânticos em seu louvor.
Todavia, tal impressão não é exclusiva das gentes do Porto. Se bem notarmos, ela estende-se um pouco a todo o país, quase como se a personalidade estivesse a ser preparada a preceito para outros voos políticos. De onde vem tal aura de santidade política não se percebe verdadeiramente. Bem entendido, não existe nada que à partida o justifique. O concorre para o facto será, eventualmente, o que sempre concorre para casos similares ao de Rui Moreira: 1) Uma ascensão profissional “meteórica” mas discreta; 2) Estar sempre de mão dada com os poderes capitalistas da sociedade; 3) Assumir permanentemente um discurso anti-sistema e anti-políticos; 4) Vestir sempre fato e gravata; 5) Assumir sempre uma postura mediática hirta, de “cara feia”, aos olhos do povo, sinónimo de seriedade; 6) Ser relativamente “virgem” na vida política propriamente dita; 7) Corresponder aos anseios infantis do povo por uma liderança considerada “forte”. Estes sete condimentos, quando combinados, formam uma mistura a que chamarei de “sebastiânica” e que envolve excelente aceitação popular, excelentes críticas na comunicação social e, em suma, “carta branca” na sua ação política.
Algumas consequências dessa “carta branca” começam a eclodir no seio do Porto e na sua governação. O último desabrochamento de que se tem conhecimento veio no Expresso deste fim-de-semana, uma peça interessantíssima sobre uma tal de Imobiliária Selminho, o PDM e construção em terreno rústico sobre proteção ambiental no Porto, na zona da Arrábida. Estaremos cá para observar este e todo o tipo de frutos que irão ser deixados no Porto após os mandatos deste executivo.
O povo parece prolongar perpetuamente uma busca em torno de um líder que por ele faça e que por ele pense, quando essa é precisamente a condição sine qua non para se ser o mais rapidamente enganado. Enquanto continuarmos a aceitar frases como “o nosso partido é o Porto” ou outros logros intelectuais que tais, então continuaremos a ter lideranças do mesmo tipo. Lideranças superiores requerem eleitorados intelectualmente superiores.