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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Uma espécie de úbere

Antes de nos debruçarmos sobre as recentes revelações em torno dos mais de dois mil milhões de crédito mal parado da Caixa Geral de Depósitos (CGD), será, por ventura, mais interessante olhar para montante em direção aos propósitos do banco público português. Será aí, na sua razão de ser, nos seus desígnios, nos seus objetivos, que encontraremos todas as respostas para as interrogações que, por ora, nos assolam.

 

Importa, portanto, perguntar: para que serve a CGD? É mais fácil dizer para que não serve: não serve para conceder crédito às famílias ou às empresas; não serve, portanto, para incentivar a procura interna ou para fomentar a economia; também não serve para incentivar a poupança dos portugueses. Para que servirá a CGD, então? Podemos mesmo ir mais longe: para que nos serve dispormos de um banco público, se este claramente não satisfaz nenhuma das essenciais prerrogativas elencadas neste parágrafo?

 

Olhando para um passado não muito longínquo, não é muito difícil detetar o verdadeiro desígnio da CGD: servir como plataforma legal para o Estado poder intervir em favor da banca. A CGD não é, com efeito, nada mais que uma almofada paga e sustentada pelo povo para aparar todas as quedas da burguesia banqueira, fruto da sua imponderada atividade especulativa ou gestão gananciosa. Quando a banca está em dificuldades para se capitalizar porque investiu como louca no imobiliário, ou por outra razão qualquer, aí está o Estado, por intermédio da CGD, a sustentar fundos de recapitalização. Quando o Estado quer injetar dinheiro nalgum banco em risco de falência, não o faz diretamente, usa a CGD.

 

É sobre este ponto de vista, e apenas sobre este, que devemos analisar a recente notícia dos dois mil e trezentos milhões de euros de crédito duvidosamente concedido pela CGD que está em risco de ser recuperado. O caso configura-se, portanto, para lá de uma mera gestão danosa da coisa pública. Antes, trata-se do corolário natural da função com que se concebeu a Caixa Geral de Depósitos durante as últimas décadas.

 

A existência de um banco público afigura-se fundamental para qualquer país soberano que não esteja complemente manietado pelos interesses do capital. É fundamental como ferramenta de intervenção económica. O que o banco público faz hoje em dia é outra coisa: é uma espécie de úbere do dinheiro estatal, ao qual a burguesia acode em caso de necessidade.

publicado às 22:09

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