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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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Charlatões

Hoje, Manuel Carvalho escreve no Público os maiores impropérios relativamente às 35 horas de trabalho na função pública. Diz que é um “benefício” e, face à intenção da esquerda em alargar essa medida a todos os trabalhadores, públicos ou privados, independentemente do vínculo, diz que “essa visão e esse desejo trariam problemas à economia”.

 

Para tecer tais categóricas sentenças sobre assuntos económicos — dei comigo a pensar —, Manuel Carvalho tem seguramente que ser um lente na área. Ser um lente em economia não é o suficiente, bem entendido, para que o que quer que saia da sua cabeça seja considerado lei, mas, pelo menos, transmite alguma propriedade, alguma credibilidade, à sua opinião. Então, fui procurar pelo currículo de Manuel Carvalho para confirmar a minha suspeita.

 

Confesso que fiquei um pouco confuso. Torna-se, aliás, um hábito muito comum não se ser claro quanto à formação de base, quando a não se tem, camuflando-a numa multiplicidade de “feitos” profissionais. Parece que agora está a estudar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto — anda há quinze anos ou mais para completar o curso —, estudou Direito nos anos noventa, mas não concluiu, depois mudou-se para História... Ah: deve ser essa História que está para concluir há quinze anos! Não é claro, mas percebe-se a ideia...

 

O que conferirá, então, a Manuel Carvalho a propriedade para dizer que “essa visão [das 35 horas] e esse desejo trariam problemas à economia”? Os seus conhecimentos em Direito? Ou os seus conhecimentos em História? Ah: já sei! Diz aqui que “trabalhou durante uma década na área da economia”, como jornalista! Está explicado! Manuel Carvalho faz-me lembrar aquelas pessoas que no Facebook referem que frequentaram a “Universidade da Vida”.

 

O que se chama a uma pessoa que fala do que não sabe? O que se chama a uma pessoa que não tem estudos mas fala como se os tivesse? O que se chama a uma pessoa que tenta impingir nos outros uma ideia que é, potencialmente, tão válida como qualquer outra, afirmando-a como se de uma verdade insofismável se tratasse? Como se chama a uma pessoa que se faz passar por aquilo que não é? Como se chama a uma pessoa que quer mostrar qualidades que não tem?

 

Gosto muito da priberam. É um utensílio prático, fiável e acessível. Procurei lá pelo conceito. Descobri a palavra charlatão.

 

https://1.bp.blogspot.com/-5tyZ-MjZWvk/VnwxIwJ6Z7I/AAAAAAAAUME/vZboIwDSCRs/s1600/snake-oil-salesman.jpg

O que é realmente dramático não é a existência de charlatões, é eles andarem por todo o lado e não constituírem um grupo mais ou menos controlado. Na minha juventude eles vinham para as feiras e arraiais populares em grandes furgonetas. Abriam a parte de trás de porta em porta, saltavam lá para cima e começavam a apregoar de microfone em punho. Era um verdadeiro espetáculo! Havia pomadas que prometiam eliminar todos os odores corporais, mesmo os mais difíceis; havia loções que faziam de carecas frondosos cabeludos; e havia toda uma panóplia de unjentos, chás e tizanas que tinham o condão de operar os mais inesperados milagres.

 

Quando eu era jovem os charlatões operavam dessa maneira e sabíamos bem onde os encontrar. Hoje em dia, podemos dizê-lo, deixaram definitivamente as trazeiras das suas furgonetas, e ascenderam às direções de jornais onde vomitam os seus idênticos pregões.

 

Importa sublinhar que muitos percursores de Manuel Carvalho diziam precisamente as mesmas barbaridades aquando das sucessivas reduções do horário de trabalho que aconteceram ao longo da História. Para todos eles, a redução do horário de trabalho iria resultar na ruína das economias. Tal nunca se verificou, antes pelo contrário.

publicado às 13:56

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