Descobrindo os antidemocratas
A propósito da golpada que decorre no Brasil, nota-se que há uma maioria de pessoas que interpreta a política como se de uma paixão futebolística se tratasse. O chamado processo de impeachment movido contra a Presidente do Brasil mostra como as pessoas que se posicionam a favor do mesmo, mas também boa parte das que se posicionam contra, o fazem sem qualquer correspondência com a realidade, sem qualquer noção dos conceitos. Defendem a bandeira que escolheram apesar de tudo, por cima de tudo e acima de tudo.
A figura do impeachment visa a destituição de chefes de estado que tenham de alguma forma quebrado a Lei e, que se saiba, Dilma Rousseff não o fez. Resulta, portanto, de todo este processo, mais do que a destituição da Presidente, uma apologia nutrida a uma lógica de “os fins justificam os meios” que tem tanto de primário como de contraditório com qualquer definição que possamos interiorizar do conceito de democracia.
Para estas pessoas que apoiam o golpe, fica claro que o que interessa é o resultado final por elas pretendido independentemente de todos os meios usados, independentemente de se pontapear a Lei, a justiça ou de se passar por cima da vontade popular.
Imaginemos se em Portugal o Presidente da República decidisse dissolver o parlamento sem fundamentação adequada? E se, no seguimento da sua decisão, se recusasse a convocar novas eleições e forçasse uma composição governativa não sufragada?
O que o Brasil está a viver é qualquer coisa deste género no contexto das idiossincrasias do seu próprio sistema republicano. Quem apoia tal solução pode puxar bem pela melhor retórica que trouxer na algibeira, pode engendrar as melhores justificações, pode falar de economia e de “mercados” com a mais robusta propriedade — parece que todo o processo terá, afinal, sido patrocinado e feito para o agrado desses mesmos “mercados” — pode falar do que quiser, só não pode falar de democracia ou dizer-se democrata.
Se não servir para mais nada, este processo serviu pelo menos para descobrir o quão elevada é a percentagem de antidemocratas no Brasil e, por generalização estatística grosseira, do resto do mundo.