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Não queria escrever mais sobre a greve dos pilotos. É uma prerrogativa que apenas a eles pertence. Trata-se de um direito que lhes é constitucionalmente atribuído, assim como a todos os restantes trabalhadores do país com a exceção das forças de segurança. Vejo-me forçado, contudo, a referir-me ao assunto: o tratamento jornalístico a que o mesmo tem sido votado é muito triste mas esclarecedor.
É triste, porque o direito à greve é posto em causa de uma maneira mais ou menos declarada. É triste, porque os comentadores escolhidos para discutir o caso são tão monofónicos como o canto gregoriano do século décimo terceiro. É triste porque se percebe que a comunicação social não tem por objetivo informar, dando a conhecer com imparcialidade as diferentes posições em debate, mas antes formar opinião, a justa opinião que os seus donos pretendem veicular. E é exatamente por isto que considero esclarecedores estes últimos dias de “jornalismo”. O espírito de Gutenberg está morto e enterrado.
Nunca, como hoje, a democracia se assemelhou tanto a uma ditadura formal. Nunca, como hoje, o Portugal democrático respirou este espírito podre e omnipresente de pensamento único, envernizado de um falso contraditório. Nunca, como hoje, se viu neste país pós-abril este fomento de ignorância e de inveja, de vulgaridade, de limitação e de mediocridade intelectual. Nunca, como hoje, a liberdade se tornou nestes grilhões, nesta gaiola, nesta ilusão de tudo, que na verdade não é nada.