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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

E ao décimo dia anunciou

Sobre a idoneidade jornalística em Portugal: foram necessários dez (!) dias de greve dos trabalhadores da Efacec para constituírem notícia de rodapé do telejornal.

 

Entretanto temos horas de propaganda governamental ou retórica acéfala em direto televisivo, sabemos tudo sobre o marido que matou a amante, sobre os namorados que se esfaquearam e notícias afim.

 

Adjetivar este jornalismo de boçal é apetecível mas incorreto. Estes critérios editoriais são inteligentes nos seus objetivos.

publicado às 11:33

Viajar no tempo

DeLorean, a máquina do tempo de Regresso ao Futuro

 

Mais amiúde do que se possa imaginar, e sem dar imediatamente por isso, embarco numa viagem temporal que me conduz ao passado ou ao futuro.

 

Justamente numa destas manhãs solarengas de fim-de-semana dei comigo de regresso ao passado. Nestes dias de meados de 2015, o Brasil debate-se acesamente com a questão da “terceirização” do trabalho. O termo nada me dizia e não me suscitou curiosidade imediata. Vim a saber, nessa iluminada manhã de domingo, que o termo brasileiro “terceirização” esconde, afinal, um conceito assaz conhecido por todos os portugueses e pode ser interpretado como um sinónimo de subcontratação.

 

A subcontratação tem sido implementada ativamente em Portugal há já vários anos que, todos juntos, perfazem mais de uma década e tem que ver com a delegação de determinados serviços necessários ao funcionamento de uma empresa ao cuidado de uma outra empresa que os oferece ao melhor preço. Esta intromissão de uma terceira parte no processo da prestação de serviços conduziu, em Portugal, a uma diminuição substancial dos custos do trabalho que se traduziram em ganhos imediatos para as empresas acompanhados de diminuições progressivas da qualidade dos serviços prestados e, igualmente, perdas concretas dos rendimentos dos trabalhadores, reais prestadores dos serviços em causa.

 

Esta lógica, subjacente ao processo de intermediação, é tão evidente que me abstenho de a explicar em detalhe, talvez por preguiça, ou talvez por estar cansado de ver, no meu país, entre outras coisas, a falta de higiene em que caíram os serviços públicos, como os hospitais ou as universidades, ou até mesmo a assustadora diminuição dos níveis de responsabilidade e segurança de empresas ditas de alta segurança e vitais para o nosso país.

 

Por tudo isto, assistir ao debate em torno da “terceirização” no Brasil resulta como uma viagem de regresso ao passado. Nós viemos de lá, desse mesmo sítio onde o povo brasileiro se encontra agora, no que a este assunto particular diz respeito.

 

Mas nem só de viagens ao passado vive este DeLorean. Num outro dia, já não me lembro se de manhã, se de tarde, se de noite, se solarengo ou cinzento taciturno, uma amiga, vinda do coração de Inglaterra, contou-me que as salas de aulas londrinas já vêm equipadas de panic buttons (botões de pânico) sob as mesas dos professores, vítimas de ataques frequentes dos seus pupilos. Neste particular, vemos nos ingleses o nosso futuro imediato mesmo ao virar da esquina.

publicado às 11:11

Nós somos os vossos carcereiros

Numa coisa há que dar crédito a estes governantes: eles dizem com suficiente clareza ao que vêm.

 

“Queremos diminuir os custos do fator trabalho!”.

 

Será necessária mais clareza do que isto?

 

O que é simultaneamente surpreendente e assustador é a confiança inerente necessária para se exprimir uma tamanha cara de pau. Eles têm um exército de portugueses que os suportam ativamente e que, podendo não bastar para a maioria absoluta, são o suficiente para o legitimar do impensável.

 

Ainda mais dramático é perceber que, dentro do universo daqueles que não suportam os partidos do governo, uma esmagadora maioria suporta diretamente o mesmo tipo de políticas, não obstante indexadas sob uma sigla diferente. Note-se bem as palavras do maior partido da oposição: “a diminuição dos custos do trabalho não deve ser uma prioridade”. Também aqui, as palavras são claras e tudo dizem. Não ser uma prioridade não é ser-se contra. Antes pelo contrário.

publicado às 12:14

Porquê o Socialismo, por Albert Einstein

“Estou convencido de que só há uma forma de eliminar estes sérios males [do capitalismo], nomeadamente através da constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objectivos sociais. Nesta economia, os meios de produção seriam detidos pela própria sociedade e seriam utilizados de forma planeada. Uma economia planeada, que adeque a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que pudessem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas, tentaria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa atual sociedade.”

 

— Albert Einstein, artigo de 1949 da Monthly Review. O texto integral e original poderá ser consultado aqui.

publicado às 17:05

Sociedade estranha de estranhos símbolos

Aos cento e seis anos de idade faleceu Manoel de Oliveira, um cineasta de invulgar longevidade e de reconhecimento mundial. Esse reconhecimento, aliás, foi transportado e multiplicado da sua vida para os dias imediatos à sua morte. O que me causa espanto, no que torneia a personalidade imortal de Oliveira, é a atitude da sociedade perante o homem, perante o cidadão: este unanimismo endeusado que, subitamente, se abateu sobre a pessoa e sobre a sua obra. Exige-se o Panteão! Não discuto este assunto, admitindo-o perfeitamente, contudo. Não é isso que me importa.

 

Não tenho cento e seis anos mas possuo uma vasta memória de várias décadas e lembro-me... Lembro-me de, durante toda a minha vida, ouvir aquelas piadolas injustas e abjetas sobre a obra de Manoel de Oliveira. Lembro-me do escárnio cruel. Não me lembro de ver um filme seu passar nos grandes cinemas. E espanta-me, por isso, este unanimismo súbito, estas frases feitas, este elogio fácil e bacoco produzido por pessoas de que me asseguro nunca terem visto um filme de Oliveira.

 

É estranho... Parece que é necessário ser-se suficientemente neutral, passar-se suficientemente ao lado da polémica, para se ter este tipo de unanimismo na hora da morte. É uma sociedade estranha, esta em que vivemos. Manoel de Oliveira nunca foi um ídolo, mas foi tratado como tal, por todos nós, à hora da sua morte. Qual será a sua função social no dia de amanhã, quando o luto estiver findado? Que simbolismo refletirá a carreira do cineasta no Portugal que se há de cumprir?

publicado às 15:43

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