Mais amiúde do que se possa imaginar, e sem dar imediatamente por isso, embarco numa viagem temporal que me conduz ao passado ou ao futuro.
Justamente numa destas manhãs solarengas de fim-de-semana dei comigo de regresso ao passado. Nestes dias de meados de 2015, o Brasil debate-se acesamente com a questão da “terceirização” do trabalho. O termo nada me dizia e não me suscitou curiosidade imediata. Vim a saber, nessa iluminada manhã de domingo, que o termo brasileiro “terceirização” esconde, afinal, um conceito assaz conhecido por todos os portugueses e pode ser interpretado como um sinónimo de subcontratação.
A subcontratação tem sido implementada ativamente em Portugal há já vários anos que, todos juntos, perfazem mais de uma década e tem que ver com a delegação de determinados serviços necessários ao funcionamento de uma empresa ao cuidado de uma outra empresa que os oferece ao melhor preço. Esta intromissão de uma terceira parte no processo da prestação de serviços conduziu, em Portugal, a uma diminuição substancial dos custos do trabalho que se traduziram em ganhos imediatos para as empresas acompanhados de diminuições progressivas da qualidade dos serviços prestados e, igualmente, perdas concretas dos rendimentos dos trabalhadores, reais prestadores dos serviços em causa.
Esta lógica, subjacente ao processo de intermediação, é tão evidente que me abstenho de a explicar em detalhe, talvez por preguiça, ou talvez por estar cansado de ver, no meu país, entre outras coisas, a falta de higiene em que caíram os serviços públicos, como os hospitais ou as universidades, ou até mesmo a assustadora diminuição dos níveis de responsabilidade e segurança de empresas ditas de alta segurança e vitais para o nosso país.
Por tudo isto, assistir ao debate em torno da “terceirização” no Brasil resulta como uma viagem de regresso ao passado. Nós viemos de lá, desse mesmo sítio onde o povo brasileiro se encontra agora, no que a este assunto particular diz respeito.
Mas nem só de viagens ao passado vive este DeLorean. Num outro dia, já não me lembro se de manhã, se de tarde, se de noite, se solarengo ou cinzento taciturno, uma amiga, vinda do coração de Inglaterra, contou-me que as salas de aulas londrinas já vêm equipadas de panic buttons (botões de pânico) sob as mesas dos professores, vítimas de ataques frequentes dos seus pupilos. Neste particular, vemos nos ingleses o nosso futuro imediato mesmo ao virar da esquina.