Coligações
Neste fim-de-semana de congresso, cujo principal objetivo foi escolher caras e clarificar posições relativamente a poleiros internos, muito se falou em coligações. Disse-se que à direita, nunca!
Nunca?!
Estaremos assim tão privados das nossas faculdades para aceitar esta retórica? Às vezes, penso que falta-nos muito conhecimento de história contemporânea. O PS já demonstrou ad nauseam quem são os seus aliados políticos, seja em coligação efetiva, seja em acordos parlamentares, para que aceitemos este género de hipocrisia.
Depois disse-se: “alianças só à nossa esquerda mas...”
Mas isso é o que realmente fica bem dizer-se neste momento. Fica bem dizer-se que se é diferente, enquanto oposição, do que se foi no governo, governo após governo. Regressa sempre aquele comportamento bipolar que normalmente serve de trampolim para os assaltos ao poder.
O que seria realmente importante dizer era outro género de coisas. Era dizer com que linhas é que nos devemos coser. Dizer que os cortes na economia vão ser eliminados. Dizer que se vai restruturar a dívida, cada vez mais asfixiante. E dizer mais: dizer que se vão rever os acordos com a UE que nos estrangulam economicamente; dizer que se vai reverter este plano de nos tornar um país improdutivo e um satélite descartável de países como a Alemanha.
Nada disto foi dito e, na verdade, nenhuma coligação pode ser construída com base em ilusões. E ainda que se dissesse o que se devia, ainda assim, o PS teria muito crédito a conquistar junto dos outros partidos, daqueles que não ajoelharam perante a troika, devido ao passado que carrega, que também é o seu presente de sempre, e que não se limpa com meras palavras.
Claro que ganhar esse crédito nunca esteve no horizonte do PS. O partido sabe que se não obtiver maioria absoluta arranja o apoio de algum dos suspeitos do costume. Pode ser da muleta autodeclarada, pode ser do bloco central, pode até ser de um ou outro deputado dos queijos, como foi no passado. Dêmos asas à nossa imaginação: pode ser de um destes partidos que surgiram cheios de boas intenções, haja inocentes suficientes para votarem neles e contribuírem para a política liberal que está, desde a fundação, no genoma do PS.