Tornou-se num hábito olharmos para qualquer dado estatístico sobre a expansão económica com os olhos de uma virgem inocente desencadeando uma enxurrada de elogios bacocos de natureza acéfala sobre o assunto. A sociedade da propaganda tem destas coisas.
Em abstrato, o crescimento económico é algo de louvável. O abstrato, contudo, de nada vale sem o concreto. Dediquemo-nos, portanto, ao concreto da coisa, sendo conveniente concentrarmo-nos sobre dois pontos: o sustentáculo e o consequente social. São dois pontos umbilicalmente interligados e que assumem uma importância vital em qualquer tipo de análise séria sobre o assunto. Olhemos, a título de exemplo, para as empresas associadas ao setor primário, amplamente elogiadas, nomeadamente ao mais alto nível. Com efeito, após nos debruçarmos durante uns minutos sobre os dois pontos referidos anteriormente verificamos o quão ocos são os elogios tecidos. Em que se sustenta esse crescimento afinal?
Em muitos casos, tratam-se de empresas que entre o deve e o haver entre benefícios fiscais, planos de apoio e fundos europeus, efetuam um investimento que apenas poderá ser caracterizado como minimal, a existir algum, e retribuem pouco mais do que nada em termos de imposto. Inicia-se logo aqui uma relação empresa-estado-sociedade pouco sã, pois não existe uma relação direta de retribuição em termos fiscais. Mas tudo isto perderia relevância num certo grau fosse essa retribuição fiscal efetuada noutros moldes, concretamente no volume de emprego criado. Mas até aqui, a realidade revela-se confrangedora. De facto, temos muitas vezes empresas sustentadas em postos de trabalho tão precários que tão pouco são ocupados pela população emigrante de leste, mas antes por tailandeses e filipinos, que sobrevivem em parcas condições até regressar ao país de origem. Esta é a realidade governada pela lei em que “os fins justificam os meios”. E, neste contexto, de que servem os lucros crescentes destas empresas? De que valem os números crescentes das exportações? Valem apenas na justa medida da profundidade dos bolsos dos donos destas empresas. Para o país, valem de muito pouco.