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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Ainda estou para perceber...

Ainda estou para perceber a razão de ser da demissão do Primeiro-ministro. Pressões para aprovar negociatas? E para passar pareceres favoráveis? A sério? É por isso que se demite? Alguém no seu perfeito juízo acaso considera que isso não se constitui como o “pão nosso de cada dia” nos escritórios de qualquer poder, pequeno ou maior?

Todos os dias espero pelas notícias que vão caindo a conta-gotas nos jornais, como de costume, nos julgamentos na praça pública que rapidamente se estabelecem e parecem fazer parte das investigações, mas estas não conseguem iluminar-me o entendimento.

Muito bem vai o nosso país, em termos da ética política, se o Primeiro-ministro se demitiu apenas por isto — pergunto-me se existirá mais qualquer coisa? Se é só isto, então devemo-nos sentir orgulhosos do país que somos.

publicado às 14:48

Marcelo e o poder da palavra

Numa altura em que parece — tenhamos sempre cuidado com o que parece — que a sociedade como um todo se revolta contra Marcelo, permitam-me ensaiar uma posição contrária, como é, aliás, meu habitual timbre — eu, tantas vezes crítico da atuação do presidente. Este governo merece ser demitido, disso não há qualquer dúvida. É um governo que se tem envolvido em tanta situação imprópria que parece ter perdido qualquer vestígio de respeitabilidade. Este caso Galamba é simplesmente a cereja em cima do bolo dos casos que a maioria absoluta tem avolumado, embora, falando estritamente em termos do decoro e da famigerada “ética republicana”, poderíamos dizer que é o bolo em cima das cerejas...

É óbvio que o Presidente poderia ter demitido o governo. Com isso, corria dois riscos: que o PS ganhasse sem maioria absoluta e com a necessidade de encetar sempre belicosas negociações à esquerda para formar governo, num quadro em que é necessário executar projetos e verbas europeias no contexto do plano de recuperação; que a direita ganhasse as eleições, abrindo as portas do governo à extrema direita. Creio que Marcelo não quis correr nenhum destes riscos e não terá querido, sobretudo, prejudicar a sua imagem histórica, a coisa que, julgo, mais preza, o modo como a história olhará para ele.

Em vez de dissolver o parlamento e desmantelar uma maioria absoluta, para todos os efeitos, legitimada popularmente, escolheu, na minha opinião, fazer algo mais inteligente: usar a sua posição, credibilidade e popularidade para explicar pedagogicamente aos portugueses a situação em causa, o que resultou, como não poderia deixar de resultar, num enxovalho mais que merecido a ministro, primeiro-ministro e governo. Esta atitude não só é louvável como é recomendável: a política devia ser mais vezes assim e menos ensopada da hipocrisia do costume.

Não se trata de uma atitude frouxa, como muitos apressadamente e irrefletidamente a qualificaram, bem pelo contrário. Com o seu discurso, com o poder das suas palavras, Marcelo revelou elevado sentido de estado e colocou em evidência a “qualidade” de alguns dos membros do executivo. Deixo aqui a questão que me parece mais relevante: que género de pessoa ouve o discurso de Marcelo e não se demite imediatamente? Que valores é que o podem continuar a mover? É sobre isto que muitos portugueses, no final do dia, ficarão a pensar.

Que as oposições, sobretudo à esquerda que são as que mais me interessam, estejam aliviadas por evitarem eleições antecipadas, isso é outra questão, mas é uma que devia ser motivo de embaraço para as forças políticas em causa e grave sintoma do seu estado atual de morbidez e definhamento.

publicado às 15:29

Eufemismos

1. Costa é perito em tirar e fingir que dá.

2. Os meus leitores que me desculpem a frase eufemística. Bem me apetecia não a utilizar. Vejamos o que o nosso primeiro tenciona fazer com a bênção do nosso presidente dos afetos.

3. Os pensionistas tinham por lei o direito a receber um aumento na ordem dos 7%, pelo menos, nas suas pensões, no início do próximo ano. Houve produtividade, houve aumento do PIB, houve inflação, uma conjugação de eventos que quem fez esta lei nunca esperava, em boa verdade, que ocorresse. Mas ocorreu. Era preciso fazer algo para não se pagar aos pensionistas.

4. Costa dá um bónus, único, de meia reforma em outubro aos pensionistas o que equivale a 3,57% do supra-mencionado aumento. O que sobra dos cerca de 7% dará como aumento no início do próximo ano.

5. Com isto os pensionistas nada perdem em 2023, mas nos anos seguintes os seus aumentos serão menores uma vez que incidirão sobre cerca de 4% e não sobre cerca de 7% do valor das suas pensões que auferem hoje.

6. A maioria dos pensionistas esfrega as mãos de contente com o dinheiro na mão e sem preocupação com o seu futuro e com o futuro dos outros.

7. Era justamente isto que Costa queria, aclamação popular, um povo incapaz de ver que lhe dão com uma mão menos do que lhe tiram com a outra, ao mesmo tempo que se dá uma injeção no consumo interno mesmo antes do Natal com uma antecipação do dinheiro que já era devido aos pensionistas.

8. O que se chama a este tipo de política? O se chama a este tipo de atitude? Qualquer eufemismo me parece vergonhoso.

publicado às 17:58

O estado das sociedades contemporâneas

Não obstante todas as ajudas estatais, todos os layoffs pagos a 100%, o setor privado aproveitou a oportunidade que a pandemia lhe proporcionou para efetuar uma redução de gastos com pessoal sem precedentes. O setor da aviação foi exemplar neste particular, cortando tanto em pessoal de terra como em pessoal de ar. O caso português ainda é mais extraordinário, tendo sido o próprio governo a liderar esse processo, reduzindo a TAP a uma companhia irrelevante, vendendo aeronaves e slots, suprimindo rotas, cortando despesas e comprometendo qualquer futuro minimamente viável para a companhia. O estado como o pior e o mais oportunista dos patrões.

Como seria expectável, a superação ou normalização da pandemia fez retomar, em força, toda a atividade aeroportuária. E como qualquer idiota poderia prever com facilidade, deu-se o caos, Europa fora, com o setor perfeitamente diminuído e incapaz de lidar com a demanda. O que importa refletir neste momento é sobre a responsabilidade.

Os estados, os povos, que efetivamente foram os responsáveis históricos pela criação da aviação comercial, porque foram eles que avançaram com o dinheiro (como em tudo o mais, aliás), resolveram, ao longo dos tempos, delegar esses serviços, concessioná-los a privados. Os privados têm a responsabilidade de gerir todo um setor. Falham redondamente e inadmissivelmente. É que eles até podiam ter recontratado o pessoal que despediram durante a pandemia, mas cederam à tentação de tentar fazer o serviço de 100 com 10. O que acontece agora? Quem lhes exige as suas responsabilidades? Quem paga por isto? Onde está a democracia?

A situação dos aeroportos é paradigmática: ela mostra o estado a que as sociedades contemporâneas chegaram, os povos tocando o fundo do poço em termos de participação do espaço público e político. O que acontecerá em seguida? O que é que o futuro nos reserva? Vamos ficar sem luz? Sem água? E vamos ver as companhias privadas que gerem esses bens, sempre a acumular lucros sobre lucros, a encolher os ombros, a dizer que nada podem fazer?

publicado às 08:59

O governo que pode tudo

Mais uma semana, mais um “evento”, incompetência, incapacidade, falta de senso, o que quer que se queira chamar, mais um objetivo cumprido no rol “a fazer” do governo mais incapaz de que há memória. Faça o que fizer, nada lhe acontece. Não é que devesse suceder alguma coisa, bem entendido. É uma maioria absoluta. O que faz, o grotesco que é, apenas reflete de volta, qual espelho cristalino, ao povo que o elegeu e o suporta. Não tenhamos ilusões: houvesse eleições já amanhã e este governo ganharia de novo ou... outro da mesma “qualidade”. O povo escolhe. O povo tem.

publicado às 08:08

Siga para bingo!

De crise em crise, até à próxima.

Passou o dia, passou a romaria.

Resiliência para aguentar a tempestade: a distinta marca deste governo.

Sem se mexer sequer o dedo mindinho do pé esquerdo, amanhã já haverá médicos nas urgências depois das suas férias.

Siga para bingo!

publicado às 09:30

Esta maioria absoluta do PS ainda vai ficar na história deste país...

Este estado falha miseravelmente em tantos domínios diferentes que torna-se penoso assistir ao desenrolar da governação deste país. Incapaz de antecipar os problemas, agravando todas as condições materiais do país para poder fazer frente aos mesmos, prometendo milhares de medidas depois dos problemas se darem e se instalarem, para, finalmente, deixando a coisa cair de podre do ramo da árvore, não fazer rigorosamente nada, não mudar rigorosamente nada de substantivo, não gastar um cêntimo que seja e ainda conseguir poupar com a crise. Este é o plano que já revolta as entranhas de tantas vezes o vermos repetido crise após crise, surpresa após surpresa, histeria após histeria.

Agora são as urgências e as consultas de pediatria fechadas, desativadas pelo facto de andarem, em normalidade, a funcionar nos mínimos e não conseguirem enquadrar uma ou duas ausências de férias. Lembremo-nos que a história que nos foi contada era que os mega-hospitais, a concentração de meios eram a resposta para termos uma melhor saúde.

Também acontece algo do mesmo género com os aeroportos, incapazes de acolher os viajantes que ali chegam por não terem pessoal para trabalhar. Lembremo-nos que a privatização dos serviços, a subcontratação e a terceirização dos mesmos foram-nos vendidas como as soluções para termos os melhores serviços aos melhores preços.

Antes, andámos um ano inteiro com carência de professores de norte a sul do país. Lembremo-nos das capas de jornais e dos opinadores que diziam que os professores e as escolas eram demasiado onerosas para o orçamento do país, para além de que os primeiros eram um conjunto de mandriões que apenas trabalhavam vinte e duas horas por semana.

Isto não pode ser entendido como um acaso, são muitos, demasiados, sintomas concordantes numa doença comum: os sucessivos governos, e este em particular, estão a arruinar o estado, estão a destruir os serviços, a dá-los de barato aos privados. São décadas e décadas acumuladas de desinvestimento brutal, de transformação de pessoas essenciais em tarefeiros ao dia, de gestão empresarial que é o mesmo que gestão danosa sem cuidado, sem limpeza, sem ética. Há um plano bem concertado entre muitos dos poderes de facto deste país para acabar com o estado, e suas instituições populares, saído do 25 de abril. E esse plano está a dar os frutos que temos visto e que já víamos antes da pandemia.

A este respeito as reações dos vários meios de informação são bastante elucidativas: não atacam o problema, não apontam as questões fundamentais, têm feito um grande alarido sempre com o sentido de “mais privado” e de “menos estado”, quando o “mais privado” tem sido uma das razões, um dos meios, para estarmos na situação em que estamos. Esta maioria absoluta do PS ainda vai ficar na história deste país. Ela tem o respaldo para conseguir levar a cabo as vontades dos poderes que realmente governam o país e que as massas populares, bem entretidas que andam, vão suportando: um estado cada vez mais incapaz de fazer cumprir uma qualquer noção de igualdade, de solidariedade e de cidadania, governando um país partido entre os muito ricos e os muito pobres. E enquanto os muito ricos ainda mais enriquecem, os muito pobres vão apontando dedos uns aos outros.

publicado às 14:58

Esmola-voucher

Os portugueses vendem a sua privacidade por pouco. E a sua dignidade por menos. No fundo, esmolar está na natureza humana tanto quanto outra coisa qualquer.

A propósito dos tais 5 euros por mês consagrados no chamado Auto-Voucher — que para a maioria dos portugueses ficará aquém desse já mísero valor — enchem-se a partir de hoje as bombas de gasolina do país.

É mais uma medida emblemática deste governo PS: um nome catita, inglesado e tal, mil promessas de apoio a quem anda a ser explorado indecentemente ad aeternum, envolvendo partilha de dados com empresas externas fora do domínio do estado, para, no final, devolver-se menos do que se dá ao pobre à saída da missa de domingo.

Emblemático.

Desprezível.

publicado às 10:40

Foi tempo de mais

O único problema do chumbo deste orçamento de estado foi não ter acontecido há mais tempo:

  1. Foi tempo de mais de carta branca ao PS para este cristalizar as políticas sociais e laborais da troika e da direita.
  2. Foi tempo de mais de desrespeito, de falta de integridade e caráter nas negociações que manteve com os seus parceiros à esquerda corporizados nas cativações orçamentais regulares e crescentes e em promessas jamais cumpridas.
  3. Foi tempo de mais de adiamentos, de “para o ano é que vai ser”, ao mesmo tempo que os serviços públicos caíam na lama e no descrédito.
  4. Foi tempo de mais de malabarismo fiscal para disfarçar mais impostos sobre quem trabalha.
  5. Foi tempo de mais de medo do papão da direita que, em boa verdade, não teria feito muito pior se tivesse no lugar do PS.
  6. Foi tempo de mais de chantagem e ameaça, foi tempo de mais de uma esquerda refém da social-democracia burguesa. Historicamente, foi um tempo negro para a esquerda em Portugal.

Foi tempo de mais. Seis anos é tempo de mais. O único problema do chumbo deste orçamento de estado foi não ter acontecido há mais tempo.

Primeira nota: foi o PS que quis governar assim; foi o PS que não quis acordos ou aproximações de princípio; era o PS que não tinha maioria absoluta; era ao PS que se exigia que encontrasse o apoio parlamentar maioritário que não tinha. A responsabilidade de tudo o que aconteceu é do PS. Faltam bases objetivas e racionais a quem anda pela comunicação social a espalhar o contrário e ao povo que repete esta cançoneta sem pensar. PCP e Bloco não precisam de se preocupar muito com esta linha de argumentação: ela é alimentada por pessoas que nunca votaram (e dificilmente o farão) à esquerda.

Segunda nota: em todo este processo, o comportamento do Presidente da República foi impróprio, procurando condicionar a sucessão dos eventos e as negociações quando deveria ter-se limitado a promover o encontro entre as partes e a saudável discussão dos temas. Pelo contrário, ameaçou a dissolução da Assembleia da República de forma precipitada e injustificada, sem ouvir as partes, sem consultar o Conselho de Estado, sem considerar outras alternativas, numa clara tentativa de forçar a aceitação de um orçamento de estado que não tinha o acordo da maioria da Assembleia da República. Acresce ainda a inaudita e absolutamente irregular audiência concedida ao candidato à liderança do PSD. Não lhe chega meter-se diariamente em “bicos de pés” para fingir ser o chefe do governo de Portugal que não é: também tem que meter o dedo nas eleições internas dos partidos políticos. É admirável, contudo, como, sabendo de tudo, metendo o seu dedo em tudo, consegue sempre escapar às responsabilidades quando as coisas dão para o torto.

Terceira nota: para o papel politicamente medíocre do PAN, o partido que faz da abstenção a tudo o que mexe a sua regra dourada porque, em boa verdade, não tem posição bem definida sobre nada que não se mova sobre quatro patas, vem criticar quem tem a coragem de assumir uma posição, de quem ainda tem princípios e ideais — bem sei que é coisa que vai rareando — e se bate por eles. Neste particular, o PAN assemelha-se à direita que diz que a pior coisa que poderia acontecer a Portugal era haver uma crise política, como se ela própria não tivesse votado contra um orçamento de estado que poderia muito bem ter sido proposto por si. Nestes debates, se há coisa verdadeiramente indigerível é a hipocrisia oportunista e descarada.

publicado às 10:09

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