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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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Luaty Beirão para além do óbvio

Demorei tempo demais a decidir-me em escrever algumas linhas sobre o caso Luaty Beirão que, nas últimas semanas, inundou a comunicação social. A minha demora deve-se, não o escondo, a sentimentos ambivalentes que este caso me sugere e, como é normal com sentimentos de natureza dupla, é mais difícil organizá-los no papel.

 

A primeira ideia que me vem à cabeça aponta para o grotesco, para o inadmissível, deste caso: em nenhum país do mundo deveria alguém ser encarcerado por aquilo que pensa ou acredita. Esta primeira ideia mantem-se forte e inabalável e, por isso mesmo, considero-a a mais digna para poder iniciar o meu discurso.

 

Todavia, há na natureza das ideias pioneiras, daqueles pensamentos que nos assaltam antes mesmo de nos debruçarmos pensativamente sobre os problemas, algo de ilusório e de perigosamente inocente. Com efeito, quando penso sobre este problema, deteto facilmente objetivos ocultos, não necessariamente por parte de Luaty Beirão, sobre o qual possuo aquele desconhecimento completo (que com quase todos os portugueses partilho) que é ideal para idolatrar e eternizar, mas claramente na parte maior que o envolve, na propaganda que rapidamente inundou os canais de um certo pensamento único de apoio ao jovem e de condenação do governo angolano. É que, bem vistas as coisas, o jovem foi preso, acusado e aguarda julgamento no contexto da lei angolana. Ao invés, pelo nosso Portugal temos visto inúmeros casos de cidadãos presos preventivamente sem formalização de acusação e sem julgamento marcado. É evidente que a greve de fome tem peso, tem um peso emotivo influenciador do nosso julgamento. Contudo, como nos podemos indignar com o formalismo de um caso e não nos indignarmos com o formalismo de outros casos que se passam mais perto de nós?

 

Por outro lado, parece-me claro que o caso Luaty Beirão foi um escape para aquela facção de portugueses que se posicionava do lado anti-MPLA no tempo da guerra civil e que, findada a mesma, deixou de ter uma justificação à mão de semear para dizer mal do que chamam “o regime angolano”. Por que razão não existe o mesmo alarido relativamente ao estado da democracia de Moçambique ou da Guiné, São Tomé ou Cabo Verde, para referir apenas nas nossas colónias? Em alguns casos, o paralelo político é muito semelhante. Existe apenas uma diferença: Angola é muito rica do ponto de vista dos seus recursos naturais e mexe com muitos interesses lusos. Talvez esteja aí a verdadeira razão de tanta indignação.

 

Com isto não estou a fazer a apologia do governo angolano nem tão pouco me colo às suas opções políticas, económicas ou sociais. Noto simplesmente a opção hipócrita patente em avaliar Angola por padrões europeus ao mesmo tempo que se ignora que Angola é o país africano que atualmente ocupa o topo de todos os rankings, de todos os indicadores de crescimento económico, de qualidade de vida, de crescimento social e, também, de índices democráticos... Ignorar isto e empregar o chavão de “democracia de papel” sobre Angola é, no mínimo, pouco sério.

publicado às 11:17

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