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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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As reversões que importam

Amanhã perfazem um ano e quatro meses desde a formação do vigésimo primeiro governo constitucional. Desde então, os únicos beneficiados da ação governativa deste executivo foram os funcionários públicos, os reformados e os pensionistas, que recuperaram o que lhes havia sido roubado.

 

Continuo a aguardar que as reversões se estendam aos demais trabalhadores, sobretudo aos mais jovens para os quais o conceito de “contrato de trabalho” começa a mitificar-se já numa ilusão apenas presente nas histórias contadas pelos seus pais.

 

É claro que esperar que aqueles que começaram o enterro do Código de Trabalho em Portugal — caso evidente de Vieira da Silva — no tempo dos governos PS de Sócrates, o revertam agora pode resultar numa longa espera.

 

Estou a ser sarcástico, claro.

 

Este governo PS nunca colocará o seu dedo nas reversões a sério, nas reversões que realmente importam e, acaso fosse forçado a isso por pressão de PCP e Bloco de Esquerda, acabava-se aí mesmo a história de vida da “geringonça”.

 

E é exatamente isto que é revoltante. É perceber isto, tão claramente quanto a realidade nos mostra, que faz cair a máscara a estes partidos e revela a sua grotesca face. PCP e Bloco estão a suportar uma solução governativa em tudo idêntica, no que é essencial, ao governo anterior. Costa é um Passos sorridente e de abraços, de falinhas mansas.

 

Não acreditam no que digo? Visitem as fábricas e os locais de trabalho. Perguntem às pessoas que trabalham se estão a ganhar mais ao final do mês. Perguntem se se sentem mais seguras no seu trabalho. Perguntem se elas sabem o dia de amanhã. Perguntem-lhes claramente se elas temem ser dispensadas sem qualquer razão objetiva. E perguntem-lhes se se sentem protegidas pelo sistema se isso acontecer.

 

O país, todavia, tem uma outra energia. Não se percebe é a razão de ser dessa nova energia, mas ela aí está, propalada pelos media, apoiada numa onda de importações e numa sempre renovada propaganda de incentivo ao consumo e ao crédito. A experiência acumulada diz-nos que esta história não acabará bem, sobretudo quando as bases deste consumo tornaram-se ainda mais débeis com os anos da austeridade. O país tem menos produção e está mais desequilibrado na distribuição dessa menor riqueza produzida.

 

Os meus leitores podem anotar, se quiserem: o próximo resgate já vem a caminho, cavalga veloz na nossa direção. A velocidade com que chegará será inversamente proporcional ao nível de exigência que tivermos para com este governo, exigência para que este faça as reversões que realmente importam: código de trabalho — maior estabilidade, segurança, valorização da contratação coletiva e irradicação dos falsos recibos verdes —, distribuição de riqueza — aumento generalizado dos salários — e aumento da produção nacional — com um plano sério de investimento, que se impõe, para a exploração dos recursos naturais, culturais e intelectuais do país.

 

Sem um tal conjunto de reversões, é essencialmente indiferente para o futuro do país dar-se mais esta ou aquela migalha a este ou aquele grupo de pessoas e esbatem-se quaisquer teóricas diferenças remanescentes entre esquerda ou direita.

publicado às 09:05

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