A argumentação da direita em torno dos assuntos da atualidade é tão anedótica que dá para uma boa mas trágica barrigada de riso. Atentemos nos seguintes excertos das declarações de Paulo Portas (PP).
“Há um radicalismo que não se importa de dar cabo de tudo, por razões ideológicas”.
“Portugal é completamente diferente: fizemos um grande esforço e já terminamos o programa com a troika; não pedimos mais dinheiro nem mais tempo; evitamos um programa cautelar na saída; vamos ter um défice inferior a três por cento e ficamos livres de sanções; antecipamos o pagamento total do empréstimo do FMI, porque conseguimos juros mais em conta nos mercados; a economia está a crescer mais do que a média da zona euro e há confiança.”
Analisemo-las. Para cada declaração relevante, produzirei uma reflexão em jeito de conversa improvável, daquelas que nunca têm lugar, por mais que não seja por não existir jornalismo decente em Portugal.
PP: “Há um radicalismo que não se importa de dar cabo de tudo, por razões ideológicas”.
Amato: Fica bem ao senhor doutor esta autocrítica. Efetivamente, em Portugal, o seu governo não se importou de dar cabo de tudo para levar a cabo o seu plano ideológico para o país.
PP: “Portugal é completamente diferente (...)”
Amato: Ai é?
PP: “(...) fizemos um grande esforço (...)”
Amato: Ah, claro! Os gregos não fizeram esse esforço... são preguiçosos, não é, senhor doutor?
PP: “(...) já terminamos o programa com a troika (...)”
Amato: Ai já? Que engraçado: não tinha dado por isso... Também folgo em notar que o senhor doutor já se deixou dessa sua nomenclatura pseudointelectual de triunvirato.
PP: “(...) não pedimos mais dinheiro nem mais tempo (...)”
Amato: Pois foi. Nem pediram mais dinheiro nem a mim próprio nem aos vizinhos aqui da zona. Ah, espere... enganei-me neste ponto. Já agora, seria bom se pudesse parar de nos pedir mais dinheiro, senhor doutor. É que andar a vangloriar-se com os euros dos outros... fica-lhe mal.
PP: “(...) evitamos um programa cautelar na saída (...)”
Amato: Esqueceu-se também do bicho-papão. Também evitámos o bicho-papão. Só não entendo é porque todas as nossas decisões, inclusivamente a da privatização da TAP, têm que passar pelo beija-mão à senhora Merkel...
PP: “(...) vamos ter um défice inferior a três por cento (...)”
Amato: Ah, pois vamos! Mas e no próximo ano? É que já não há nem TAP, nem EDP, nem CTT, nem... nada mais para vender... Como vai ser, senhor doutor?
PP: “(...) antecipamos o pagamento total do empréstimo do FMI, porque conseguimos juros mais em conta nos mercados (...)”
Amato: Ai, os mercados... o que acontecerá da próxima vez que mudarem de humor? E a classificação de “lixo” nas agências de rating? Isso já não interessa, pois não?
PP: “(...) a economia está a crescer mais do que a média da zona euro e há confiança.”
Amato: Pois está, pudera! Quanto regrediu nos anos anteriores relativamente a essa mesma média? E como é essa curva de crescimento? Acho que alguém entrou para ministro sem fazer as provas de avaliação de conhecimentos e capacidades... Vá falar com o seu colega Crato: saber analisar gráficos e dados estatísticos é vital, senhor doutor...